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Marques Mendes insiste que “houve uma séria negligência” do Governo que faz com que verba do PRR fique retida em Bruxelas

Marques Mendes insiste que “houve uma séria negligência” do Governo que faz com que verba do PRR fique retida em Bruxelas
RUI DUARTE SILVA

Em causa valor de quase 3 mil milhões de euros, cuja transferência Governo não pediu à Comissão Europeia. “É um facto tão óbvio, tão óbvio, que não pode ser desmentido”, escreve comentador da SIC

Luís Marques Mendes mantém que o Governo de António Costa foi “negligente” ao não aprovar todos os diplomas necessários à transferência da 5ª tranche do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) para Portugal. Aliás, insiste: “A prova, de resto, é que o Governo nem sequer apresentou à Comissão Europeia o respetivo pedido de pagamento dos 2,775 mil milhões de euros dessa quinta parte da chamada ‘bazuca’ europeia. “É um facto tão óbvio, tão óbvio, que não pode ser desmentido”, escreve o comentador da SIC num comunicado enviado esta segunda-feira às redações.

Marques Mendes tinha dito, este domingo, que a verba estava presa em Bruxelas porque o Governo de António Costa não fez “a aprovação dos diplomas que eram obrigatórios para a garantir”. Os socialistas responderam num comunicado já depois da meia-noite, alegando “constrangimentos” pelo facto de se tratar de um Governo em gestão e repudiando as “acusações falsas” de Marques Mendes.

Porém, em nenhum momento o Governo desmente que a 5ª tranche esteja, de facto, retida em Bruxelas. O argumento da resposta ao comentador da SIC é o de que o pedido de demissão de António Costa aumentou “os constrangimentos à atuação do Governo”, que fez com que não fosse “possível submeter e ver aprovar uma Proposta de Lei relativa ao mercado de capitais”.

Ora, para Marques Mendes o argumento não colhe. Por um lado, porque os quase 3 mil milhões vão ficar mesmo retidos em Bruxelas “durante semanas ou meses”, como escreve no comunicado, uma vez que os diplomas tinham de ser enviados para a Comissão Europeia até este dia 31 de março. Com a entrada em vigor de um novo Governo e de uma nova Assembleia da República, o mais certo é que esses diplomas só vejam a luz do dia nos finais de abril ou princípios de maio.

Depois, porque, sabendo o Governo que ia entrar em gestão, devia ter antecipado a aprovação dos diplomas”, fosse em Conselho de Ministros (por decreto, os que não precisavam de propostas de lei), fosse na Assembleia da República (AR), “até ao dia da sua dissolução”. O comentador da SIC diz, aliás, que isso “é o habitual nestas circunstâncias”, lembrando que a AR só foi dissolvida a 15 de janeiro, mais de dois meses depois do dia do pedido de demissão de António Costa (7 de novembro).

Houve, por isso, “tempo bastante para aprovar o que se sabia ser indispensável para não haver atrasos nos pagamentos”. Ora, “não tendo havido essa diligência, houve uma séria negligência”, carrega Marques Mendes.

A juntar aos argumentos de Marques Mendes, ainda há um outro: o do Presidente da República. Como lembra o Expresso esta segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa disse em dezembro que seria “aberto e generoso” quanto a tudo o que dissesse respeito ao PRR, mesmo com um Governo em gestão.

Ainda em gestão, o Governo aprovou mesmo esta segunda-feira, em Conselho de Ministros, três diplomas na generalidade para o referido pagamento do PRR. “Dois diplomas da orgânica da Administração Pública e uma proposta de lei relativa aos incentivo aos mercados de capitais”, detalhou António Costa, à saída da reunião.

Sobre a reforma da Administração Pública, também necessária para o pagamento da tranche, Costa diz que quis dar espaço de manobra a Luís Montenegro. “O Governo não só não tem competências como não seria cordial condicionar a organização dos órgãos de apoio ao futuro Governo quando estamos a terminar funções”, disse.

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