"Populismo tem um efeito pandémico", diz Costa, que acusa PSD de estar a "degradar" o ambiente político
MANUEL DE ALMEIDA
Em entrevista à RTP, o líder do PS acusa o PSD de ser condicionado pelo Chega e defende que a estabilidade é “seguramente” mais importante agora de um há um ano e 3 meses, quando houve eleições. E recusou dar explicações sobre a polémica do parecer que afinal não existirá
Um forte ataque ao PSD, que acusa de estar a “degradar” o ambiente político, e um recado a Marcelo - ao dizer que a estabilidade governativa é hoje “seguramente” mais importante do que há um ano e 3 meses, quando houve eleições -, marcam o início da entrevista de António Costa à RTP, transmitida este domingo.
Uma entrevista dada na qualidade de secretário-geral do PS, a propósito dos 50 anos do partido, e em que Costa usou o seu institucionalismo para não dar explicações sobre um dos assuntos da semana - a questão do parecer que, afinal, não existe sobre os despedimentos dos responsáveis da TAP. Um assunto sobre o qual toda a oposição (e mesmo o PS) já pediu que dê um esclarecimento.
“Um primeiro-ministro deve manter uma postura institucional e estou aqui como secretário-geral do PS, não vou sair deste entendimento”, afirmou o líder socialista, atacando o presidente do PSD, Luís Montenegro, de estar a usar a comissão de inquérito à TAP como “arma de arremesso político”, o que não devia ser feito por “alguém que pretende ser primeiro-ministro”.
“O Governo deve respeitar o funcionamento da comissão de inquérito, não deve estar a comentar depoimentos, nem documentos que são entregues ou não são entregues”, justificou António Costa, que voltou a defender que é preciso esperar pelo fim dos trabalhos da comissão para tirar conclusões e consequências “doa a quem doer”.
Antes de entrar neste assunto, António Costa já tinha feito fortes ataques ao PSD, a propósito do que diz ser a luta contra os populismos. A entrevista começou, contudo, com uma defesa da estabilidade, que o primeiro-ministro considera que é “seguramente” mais importante hoje do que há um ano e 3 meses quando ocorreram eleições.
“O país tem de estar focado no objetivo dos portugueses quando, nas eleições de há um ano e 3 meses, votaram pela estabilidade. Se isso era importante, agora com a guerra e com a crise energética, ainda é mais”, afirmou Costa, que também esteve na festa deste domingo à tarde, no Pavilhão Rosa Mota um momento de defesa da estabilidade e do cumprimento integral da legislatura.
“Temos de nos habituar a respeitar a vontade dos cidadãos”, prosseguiu Costa, dois dias depois de o Presidente da República ter vindo, mais uma vez, assumir a possibilidade de dissolução do Parlamento.
Costa rejeitou que o aumento das pensões, anunciado na segunda-feira, seja eleitoralista e argumentou que é feito agora porque as contas certas de que se orgulham mostram que “agora é possível fazer”. “Agora que tomamos a medida certa no momento certo, somos eleitoralistas”, lamentou.
E também tentou contrariar a ideia de que as eleições europeias possam ser motivo de dissolução. “Tem sido raro que o partido que está no Governo ganhe as eleições europeias”, reconheceu, mas lembrou que, em 2004, quando o PS teve 44 % nas eleições e “ a direita teve uma votação muito baixa e não só não houve dissolução por causa desse resultado, como não houve” quando, logo a seguir, Durão Barroso deixou a liderança do Governo para ir ser presidente da Comissão Europeia.
Ataque ao PSD
O líder socialista acredita que “a esmagadora maioria das pessoas” nem sequer responde às sondagens porque a antecipação de eleições está longe das preocupações dos portugueses. “Os portugueses não querem que os políticos criem problemas. Vejo muita energia política despendida em debates artificiais", afirmou, partindo para o ataque aos populismos e ao PSD.
“O populismo condiciona os partidos que lhes são vizinhos. O grande problema em Portugal não é o Chega em si, é o que o Chega condiciona”, disse, antes de acusar o PSD de estar a degradar o ambiente político. “Hoje o PSD tem hoje um vocabulário que não é institucional. Não pode ter um vice-presidente do partido a dar uma conferência de imprensa a um sábado a pôr em causa a visita de um chefe de Estado”, acusou Costa, referindo-se à conferência de imprensa de Paulo Rangel, depois das declarações polémicas de Lula da Silva sobre o apoio dos EUA e da União Europeia à Ucrânia.
“Há uma enorme degradação no vocabulário que a direita vai utilizando”, prosseguiu o primeiro-ministro, que também comentou a entrevista de Luís Montenegro, em que o líder do PSD se demarcou do Chega. Para Costa, Montenegro “não disse o que era preciso dizer” - que não faria qualquer acordo com o Chega -, e mostrou uma “necessidade” de se demarcar do Chega que mostra fraqueza. Mais uma prova do “efeito pandémico” que Costa encontra no populismo: "É uma pandemia política.”
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