Montenegro quer novo governo na Madeira e admite "princípios diferentes" nos Açores para acordos com o Chega
HUGO DELGADO
O presidente do PSD afirmou que "mantém a intenção" de se recandidatar à liderança do PSD mesmo se perder as legislativas e afastou que a AD possa viabilizar um governo minoritário do PS
As regiões autónomas ocuparam boa parte da entrevista de Luís Montenegro à CNN, esta terça-feira à noite, mostrando mais uma vez como a crise política na Madeira e as eleições açorianas estão a condicionar o discurso e a pré-campanha do PSD para as legislativas de 10 de março. Em relação à situação da Madeira, Montenegro afirmou que a demissão de Miguel Albuquerque da presidência do Governo Regional da Madeira foi "decisão correta", dizendo que nunca teve dúvidas, e pediu ao Representante da República para "não empatar" e nomear novo Governo.
"Eu tomaria a mesma decisão que o dr. Miguel Albuquerque, quanto ao 'timing' não vou especular sobre isso, tomou a decisão correta face a contexto inesperado", afirmou Montenegro que, antes de o presidente do governo regional apresentar a demissão, nunca a pediu ou defendeu publicamente, escudando-se na autonomia regional. "Nunca tive dúvidas sobre o que devia ter sido feito", disse agora, argumentando que que nunca teve dúvidas qual seria o "caminho mais correto", mas preferiu usar o seu "magistério de influência em privado em vez de público".
Questionado se deve ou não haver eleições na Região Autónoma, Montenegro disse apenas que "o PSD-Madeira está preparado para ir a votos" e que, a partir de 24 de março, o Presidente da República deverá "fazer uma avaliação" da situação, quando readquirir os poderes de dissolução. "A minha avaliação também será veiculada no dia 24 de março (...) Estamos preparados para ir a eleições se for o caso, o PSD-Madeira falará por si", disse.
Já sobre os Açores, onde há eleições no domingo e pode haver uma maioria de direita sem uma vitória do PSD, Montenegro deixou aberta a porta a que o PSD regional faça acordos com o Chega. "O meu principio é este [de não haver acordos com o partido de Ventura], admito que no meu partido possam haver pessoas com princípios diferentes consoante circunstâncias territoriais diferentes”, disse na entrevista à CNN, em que também anunciou que vai passar a noite eleitoral em Ponta Delgada, à semelhança do que fez nas regionais da Madeira, em setembro.
“Sou de dar o corpo às balas”, afirmou o líder do PSD, que vinha a ser acusado de faltar à campanha madeirense e de não ir fazer o mesmo que fez na Madeira. Na noite eleitoral madeirense, em que a coligação PSD-CDS perdeu a maioria absoluta, Montenegro também deu autonomia para acordos. mas foi uma autonomia condicionada. “Coligações com o Chega nem na Madeira nem no país porque não precisamos”, disse nessa noite. O líder do PSD-Madeira acabaria por dizer o mesmo e fez um acordo com o PAN.
Já para as legislativas da República, o líder do PSD garante que mantem a promessa de não fazer acordos pós-eleitorais com Ventura. Montenegro "mantém a intenção" de se recandidatar à liderança do PSD mesmo se perder as legislativas, e afastou que a AD possa viabilizar um governo minoritário do PS.
"Não vejo forma de os deputados da AD (Aliança Democrática, que integra PSD, CDS-PP e PPM) viabilizarem uma governação do PS, ela é o contrário do que nós defendemos", disse, sem esclarecer, contudo, se tomará a iniciativa de apresentar uma moção de rejeição ao programa de um executivo liderado por Pedro Nuno Santos.
Na entrevista, Montenegro sublinhou que já traçou as suas balizas -- "governarei se ganhar as eleições e governarei na base de um apoio político que não integrará o Chega -, mas admitiu que "o PSD é muito maior" do que ele. "Não tenho nenhuma tentação de me fazer maior que o PSD, eu não acredito em super-heróis", afirmou.
Se não conseguir alcançar nas urnas essa maioria nem formá-la através de acordos parlamentares com partidos como a IL, Montenegro disse estar "disponível para governar com um governo minoritário como já aconteceu".
Confrontado com uma frase de André Ventura de que teria "a garantia" de que se houver maioria de direita o PSD irá formar Governo com o Chega, Montenegro considerou-a "muito estranha" e reduziu "a zero" essa possibilidade consigo na liderança.
"O PSD tem uma liderança assumida por mim e a nossa liderança já balizou as condições em que vamos exercer a governação, André Ventura tomará as decisões que entender e será responsabilizado por elas", disse.