Atacado pela oposição por ter sido proposto por António Costa para o suceder, e evitar eleições legislativas, Mário Centeno teve, ao fim desta sexta-feira, uma defesa. O presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, colocou-se ao lado do governador do Banco de Portugal, considerando que não haveria qualquer incompatibilidade em sair para um novo governo, embora admita que a sua saída do supervisor criaria instabilidade.
“Não me parece que uma pessoa competente e séria, por se disponibilizar a prestar um serviço ao país, isso represente uma incompatibilidade, tanto mais que foi ministro num governo concreto. Não me parece que haja surpresa nenhuma relativamente à sua área política ou proximidade”, declarou Macedo na conferência de imprensa que deu esta sexta-feira em Lisboa, 10 de novembro, para apresentação dos lucros de 987 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.
Saída criaria instabilidade
“A minha questão é que o eventual conflito de interesses não me parece que, neste caso, se coloque”, continuou o responsável de um banco sobre o governador, que é o supervisor dos bancos, em resposta a questões dos jornalistas.
Mas há uma questão que se levanta: “Não é a afastar o Governador do Banco de Portugal que ajudava a estabilidade do país”, declarou o antigo ministro da Saúde, continuando: “Aumentar instabilidade com instabilidade é tudo menos o que precisamos”.
Sobre este tema, o Banco de Portugal ainda não se pronunciou, e o BCE remeteu-se ao silêncio, ainda que lembrando que Centeno faz parte do Conselho que junta os governadores e que, portanto, tem de respeitar o Código de Conduta da autoridade, que tem consagrado o princípio de independência.
Satisfeito pelo Orçamento aprovado
Nas respostas aos jornalistas, Paulo Macedo mostrou-se satisfeito pela decisão tomada por Marcelo Rebelo de Sousa de esperar pela aprovação do Orçamento do Estado para 2024. “Ontem tive oportunidade de expressar que seria positivo o Orçamento ser aprovado, e parece que assim vai acontecer. Dentro de um cenário de maior incerteza [é] dar alguma perspetiva de maior certeza”, declarou.
Mas o presidente do maior banco português vê efeitos da crise política, com a demissão a ser motivada por uma investigação judicial sobre corrupção no seio do Governo. “Vimo-nos confrontados com uma apreciação negativa em termos internacionais, mas isso quer dizer que, em termos económicos, Portugal fica mais debaixo de foco. Aspetos que são menosprezados internamente, como a redução da dívida, ou como o défice ou de superavit, passam a ter muito mais importância agora”, continuou Paulo Macedo.
Sem desculpas para não fazer
Tal como tinha referido numa conferência com outros banqueiros esta quinta-feira, o que é importante para a economia é que o país não fique paralisado.
“Apesar de estarmos num Governo que vai estar, de acordo com a legislação e as datas que o Presidente definir, ter algumas limitações na sua ação, convém que coisas como a execução do PPR, ou diversas outras que foram apontadas, possam continuar a ser desenvolvidas. Que não sirva de desculpa para adiar todas as decisões”, repetiu.
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