Esquerda ataca Passos Coelho por apresentar livro “machista, homofóbico e anti-liberdade”
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
Ex-chefe do Governo vai ser o padrinho da obra que inclui ataques ao aborto, à “chamada ideologia de género”, que considera a família como “única sociedade” e que associa disforia de género a doença mental
Os conteúdos do livro “Identidade e Família”, que será apresentado esta tarde pelo antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em Lisboa, estão a ser alvo de amplas críticas pelas redes sociais, especialmente por deputados do Partido Socialista, que repudiam as opiniões anti-progressistas e conservadoras, bem como a própria associação do nome de Passos Coelho à obra.
Através da rede social X (antigo Twitter), a deputada Isabel Moreira referiu-se ao antigo líder social-democrata como “pai” de André Ventura (recordando o passado do líder do Chega como candidato do PSD à Câmara de Loures, quando Passos Coelho estava à frente do partido) e desejando um “bom dia para os chalupas, agora encabeçados” pelo ex-primeiro-ministro.
Tiago Barbosa Ribeiro, deputado do PS e candidato pelos socialistas à câmara do Porto nas últimas autárquicas, considerou que “o processo de radicalização da direita portuguesa é constante ao longo dos últimos anos” e que “a chancela de Passos Coelho a uma obra deste calibre é só descer mais um degrau”.
“Passos Coelho nunca foi diferente. A existência do Chega é que veio alargar o campo do politicamente aceitável para quem não vê nenhum problema em dialogar com a extrema-direita: ou, no caso, pensar como ela”, escreveu ainda Barbosa Ribeiro, numa outra publicação, acusando ainda Passos de associar o seu nome a um livro “com posições machistas, homofóbicas, anti-liberdade”.
No lado do Bloco de Esquerda, numa partilha da reportagem do Expresso sobre a obra, a deputada Isabel Pires condenou o apresentador que “nem esconde ao que vem”. “Passos Coelho destruiu muitas famílias sim, quando cortou de forma cega salários e pensões e mandou emigrar tantas pessoas. Disso ele sabe bem”, atirou.
Pedro Passos Coelho, ao centro, apresenta "Identidade e Família". O volume, editado pela Oficina do Livro, conta com contributos de Gonçalo Portocarrero de Almada, Paulo Otero, João César das Neves, José Ribeiro e Castro, Pedro Vaz Patto e Pedro Afonso (da esq. para a dir.), entre outros
Já Pedro Costa, deputado municipal socialista em Lisboa e filho do (agora) antigo primeiro-ministro, António Costa, salientou que a apresentação de um livro com uma mensagem conservadora não-liberal, no qual os autores atacam a igualdade de género, o feminismo e outras lutas pela inclusão, “chama-se normalização e não é um acaso, é uma opção tática de Passos Coelho para o futuro”.
O livro “Identidade e Família” reúne contributos de 22 nomes da direita mais conservadora portuguesa, e inclui textos contra aquilo que consideram ser a “destruição da família tradicional” e a “imposição da ideologia de género”. A obra também tem partes em que considera que a disforia de género está “associada a vários patologias psiquiátricas” - algo que já foi refutado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - e em que se contesta a “convicção” de que as “senhoras” foram “sucessivamente oprimidas e desprezadas”.
Há também várias condenações sobre a eutanásia, o direito ao aborto, o casamento e adoção por casais do mesmo sexo, a legislação que “facilita o divórcio” e os “influencers digitais que fomentam a desorientação das pessoas”.