Mariana Mortágua responde a Pedro Nuno sobre aumento salarial: “É preciso muito mais do que isso”
MIGUEL PEREIRA DA SILVA
No dia após o novo líder do PS ter apresentado propostas como o aumento de salário mínimo para mil euros até 2028, a coordenadora do Bloco de Esquerda fez saber que isso não é suficiente para um entendimento. Num encontro com a população, Mortágua acusou ainda o Governo de ter ultrapassado a lei na concessão mineira na Argemela
Uma das propostas concretas anunciadas por Pedro Nuno Santos no Congresso do PS, no passado domingo, foi um aumento do salário mínimo para, pelo menos, os mil euros até 2028. Numa altura em que o acordo proposto pelo Bloco de Esquerda ao PS já é conhecido, este poderia ser um tema que aproximasse os dois partidos. Contudo, Mariana Mortágua afirmou que a proposta socialista fica aquém das exigências do seu partido. “Não queremos um país de mil euros. Ter um país de salários dignos, salários ao nível da Europa, não é um país de mil euros, é preciso muito mais do que isso”, disse à margem de um encontro com a população que contesta a exploração mineira na serra da Argemela, no domingo passado.
Entre as “medidas concretas” incluídas no acordo que o Bloco propôs ao PS está exatamente um “aumento real dos salários nos setores público e privado” e uma aproximação aos ordenados europeus. Para Mariana Mortágua, a proposta do novo secretário-geral do PS não só fica longe destas exigências como mostra “continuidade com as políticas da maioria absoluta”. “O futuro não pode ser continuar as políticas da maioria absoluta. A promessa de continuidade com as políticas da maioria absoluta é um erro e é uma desilusão face a quem esperava uma mudança”, atirou.
“É pouco útil reconhecer e fazer um diagnóstico dos problemas do país quando depois as soluções que se apresentam não são soluções, porque são mera continuidade da política da maioria absoluta, que agravou esses mesmos problemas”, acrescentou. Antes, a líder bloquista já tinha identificado uma “incoerência óbvia” entre o PS que identifica estes problemas e o mesmo partido que, enquanto tinha maioria parlamentar, teve “todas as condições para fazer diferente e não fez”.
Também na habitação – onde Pedro Nuno Santos propôs que as atualizações das rendas passassem a estar ligadas aos salários quando a inflação está acima dos 2% –, as medidas socialistas valeram críticas do Bloco. “Não se combate a crise da habitação com uma medida que fala como é que as rendas podem aumentar, mas aumentar menos. A crise da habitação é muito mais do que isso. Um partido que queira resolver a crise da habitação tem de responder como é que baixamos o preço das casas. Para isto, é preciso romper com a política da maioria absoluta para a habitação, nomeadamente”, acrescentou Mariana Mortágua.
Mortágua acusa Governo de ter ultrapassado a lei na concessão mineira na Argemela
Sobre a exploração mineira na serra da Argemela, Mariana Mortágua considerou a obra um crime ambiental e contra a saúde pública, considerando que a concessão “ultrapassou, porventura, a lei”. “Todos os indícios apontam para um favorecimento de uma empresa e para que, em nome desse favorecimento, todas as leis tenham sido ultrapassadas ao longo do tempo”, afirmou a coordenadora do Bloco, durante uma visita a Barco, no concelho da Covilhã, localidade próxima de um dos locais onde estão a ser feitos trabalhos de prospeção.
Recordando que o processo decorreu contra a vontade da população e que poderá estar em causa a segurança ambiental e a biodiversidade nas zonas abrangidas, nos concelhos da Covilhã e do Fundão, no distrito de Castelo Branco, Mariana Mortágua disse que o projeto “é para travar” e desafiou os restantes partidos a pronunciarem-se sobre o assunto.
“O Governo foi dando a volta a todas as regulamentações e todas as leis para passar ao lado das exigências, para conseguir entregar um projeto de exploração a uma única empresa, e a maior ironia de todas é que nem sequer há garantias que exista lítio ou outros materiais valiosos nestas terras e nesta região”, disse.
Na aldeia, onde ouviu as queixas e preocupações de perto de uma centena de habitantes, Mariana Mortágua insistiu que “este projeto nunca devia ter tido o aval do Governo”. “Como é que é possível que este projeto tenha sequer avançado? Porque avançou contra leis, contra o bom senso, contra a vontade da população, contra a vontade dos autarcas, contra a vontade da comunidade organizada, e há todas as razões para travar este projeto”, salientou a dirigente bloquista.
Mariana Mortágua conversou com representantes do Grupo de Preservação pela Serra da Argemela, com o presidente da União de Freguesias do Barco e Coutada, Vítor Fernandes, além da população local, que disse já se notar as consequências dos trabalhos de prospeção, “a 500 metros de distância”, nomeadamente poeiras.