“Os dados estatísticos desmentem a ministra”: Mariana Mortágua responde a Marina Gonçalves sobre construção de habitação
NUNO ANDRÉ FERREIRA
Enquanto a ministra da Habitação vê como problema “prioritário” a “falta de habitação pública”, a coordenadora do Bloco repete que não falta construção, mas sim casas que os portugueses possam pagar. “A população tem aumentado menos que o número de casas e todos nós vemos isso nas cidades onde habitamos”, respondeu
Quase 500 quilómetros separam a rentrée do Bloco de Esquerda, em Viseu, da Academia Socialista, em Évora. Ainda assim, a distância não impediu Mariana Mortágua de responder às declarações da ministra de Habitação sobre Portugal ser “dos países com o menor parque público”. Para a coordenadora do Bloco, o maior problema da habitação no país passa pelos valores das habitações e não pela falta de construção. “Os dados estatísticos desmentem a ministra. A população tem aumentado menos que o número de casas e todos nós vemos isso nas cidades onde habitamos”, respondeu à porta da Escola Superior de Educação de Viseu, onde decorre a rentrée até domingo.
Em Évora, a ministra da Habitação defendeu que o problema “prioritário” de Portugal é a “falta de habitação pública”, apesar de não ser “bala de prata”. Já o Bloco de Esquerda tem a visão contrária e destaca antes os valores das habitações e os baixos salários. “As pessoas trabalham, muitas vezes com trabalhos precários ou a recibos verdes, e os mil ou 1500 euros não chegam para pagar a casa ou a prestação ao banco. Isso é o maior problema do país”, contra-argumentou Mariana Mortágua.
Marina Gonçalves tem dedicado os últimos dias a mostrar obra na Habitação
“Há especulação a mais, turismo muito intensivo que vai tirando casas à habitação, há uma predação dos bancos que faz com que as pessoas não consigam pagar habitação, há pessoas a serem desejadas porque as casas estão a ser vendidas para serem hotéis, para servir a uma economia de turismo massificado. O Governo não consegue dizer às pessoas que a realidade é outra que não aquela que elas estão a sentir”, acrescentou.
Sobre o pacote Mais Habitação que o PS avançou que irá reconfirmar no parlamento, a líder bloquista também se desdobra em palavras duras. “Não há nada que o Governo tenha apresentado que resolva a crise da habitação. Insistir em medidas erradas é dizer que vai continuar o maná que tem sido o imobiliário e a especulação. Esse maná agride as pessoas.”
Para Mariana Mortágua, é preciso responder à crise da habitação “agora”. “Os alunos que vão para a universidade em setembro vão ver as residências construídas em 2025 ou 2026, quando já vão estar a sair. É preciso residências estudantis agora. Quem não consegue sair da casa dos pais, encontrar uma casa para constituir família ou está a ser despejado, isso está a acontecer agora. É preciso respostas agora”, reiterou. E rematou ainda: “As medidas que o Governo apresentou até agora são a garantir que a crise da habitação vai continuar em Portugal.”
Com o Fórum Socialismo a decorrer na Escola Superior de Educação de Viseu, a coordenadora do Bloco aproveitou ainda para pedir “condições” para os professores como a única forma de resolver a falta de profissionais neste arranque do ano letivo. “Resolver o problema dos alunos sem professores significa dar condições de trabalho aos professores. Não podemos continuar a exigir que o sistema educativo seja assente em professores com baixos salários que têm de atravessar o país sem sequer conseguirem pagar uma casa.”
Já as tensões entre Marcelo e António Costa – que estão lado a lado a celebrar os 50 anos da reunião em que nasceu o Movimento dos Capitães – não mereceram a atenção da coordenadora. “Não vou perder um segundo do meu tempo a comentar uma coisa que não seja como é que se resolve a crise da habitação”, respondeu aos jornalistas sobre as divergências que têm atingido os palácios. “Aquilo que se exige às mais altas figuras do estado é que enfrentem o momento difícil que o país vive e que apresentem soluções para as suas vidas.”