Numa sexta-feira de sol, a vida de quem passeia por Belém pouco ou nada muda com ou sem tensão política - ainda que ela tenha atingido um pico esta semana. No dia após Marcelo ter anunciado que não irá dissolver a Assembleia, mas prometendo reforçar vigilância e assinalando uma “divergência de fundo” com António Costa, por ter mantido João Galamba no governo, a vida nas imediações do palácio de Belém mantém-se frenética com turistas a fazerem fila para os pasteis de Belém ou a ocuparem a esplanada da Versalhes.
É também aqui, nas imediações do Palácio de São Bento, que Marcelo vai medindo o pulso à população e fazendo testes à sua popularidade. Esta quinta-feira, horas antes de falar ao país pela primeira vez deste a decisão de António Costa, o Presidente voltou até à geladaria Santini de Belém, rodeado de jornalistas. Já em Outubro do ano passado, depois das polémicas declarações sobre os abusos de menores na Igreja Católica – quando disse que “400 casos não é um número muito elevado” –, o Presidente foi a uma Santini medir o afeto dos portugueses, dessa vez em Cascais, e ainda foi jantar à Portugália, junto ao Tejo. Apesar da mancha de turismo, é em Belém que Marcelo construiu a sua zona de conforto. E é também aqui que se parece voltar a confirmar as últimas sondagens: portugueses continuam a dar nota negativa ao Governo, mas parecem priorizar a estabilidade.
“Percebo que Marcelo não tenha dissolvido para não aumentar a instabilidade política. O país já está como está, agravar a situação seria complicado”, começa por dizer David, de 24 anos, junto ao Jardim Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém. O jovem deixa ainda críticas à governação socialista e atribui ao dossier da TAP – que vê como “um poço de torrar dinheiro” – uma das maiores fontes de problemas. “Têm sido escândalos atras de escândalos. É algo que já é muito difícil aceitar”, conclui. Da mesma faixa etária, também Beatriz concorda com a decisão do chefe de Estado - mas deixa uma reserva: “Compreendo o Marcelo. Mas acabam por perder os dois. Um por não aceitar a destituição de um ministro que não tinha condições para continuar, outro pelas falhas de comunicação entre ambos”, resume no mesmo espaço verde. Sem querer ser identificada, também uma senhora partilha com o Expresso que uma dissolução “seria ainda pior” e que “não há tempo para estas pequenas discussões”.
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