“Aconteceu, pronto. Não vale a pena dramatizarmos”: António Costa quer passar à frente da crise
ANTONIO PEDRO SANTOS
Primeiro-ministro separa a “divergência pontual” que teve com Marcelo - a primeira em “7 anos e dois meses” de coabitação - da “total convergência” sobre os interesses do país: estabilidade e melhoria da vida dos portugueses. E volta a segurar o ministro das Infraestruturas: a sua continuidade mede-se pelos resultados. E Galamba até pôs fim a mais uma greve na CP, disse
“É uma divergência, pronto, aconteceu, Não vale a pena dramatizarmos”. António Costa, o Governo e o PS deixaram o duro discurso de Marcelo Rebelo de Sousa fazer o seu caminho durante quase 24h, e só esta tarde, depois da cerimónia de entrega do Prémio Camões à moçambicana Paulina Chiziane, o primeiro-ministro falou para tentar esvaziar ao máximo o tremor de terra da crise política.
Afinal, está tudo bem, e apesar da divergência, PR e PM até têm “total convergência” no que toca ao futuro: o que importa é a estabilidade e a melhoria da vida dos portugueses. Tudo o resto, foi um “conjunto de incidentes deploráveis” que tiveram um único responsável, no entender do primeiro-ministro: o adjunto demitido por João Galamba. É aí que reside a divergência, com Marcelo Rebelo de Sousa a deixar claro que da mesma forma que o ministro é responsável pelo comportamento dos elementos da sua equipa, também o primeiro-ministro é responsável politicamente pelo ministro. “Não basta pedir desculpas”, tinha dito o Presidente.
Mas aconteceu. Numa curta declaração aos jornalistas, e respondendo a apenas três perguntas, António Costa tentou recentrar o país político na “normalidade” democrática. Houve uma “divergência”, sim, rara na longa coabitação de mais de sete anos entre Belém e São Bento ("sete anos e dois meses" para ser rigoroso), mas nem a divergência é “uma novidade”. Foi assumida desde cedo e a decisão do primeiro-ministro foi tomada tendo perfeita consciência da sua existência.
“Em 7 anos e 2 meses de funcionamento, esta divergência foi uma exceção naquilo que o próprio PR designou de uma relação marcada pela capacidade de acertarmos agulhas. Não se justifica dramatizar por, por uma vez, não termos tido capacidade de acertar agulhas”, disse o primeiro-ministro. Tal como o Expresso escreveu, para Costa, não há novidade naquilo que cada um pensa (os ultimatos do PR têm sido uma constante), o episódio em questão apenas tornou visível a olho nu os poderes constitucionais de cada um.
Sobre o futuro, disse Costa, os dois estão em “total convergência”. “O que mais importa é manter uma boa cooperação entre os órgãos de soberania para garantir a estabilidade e prosseguir a ação que permita que as melhorias da economia se vão traduzindo numa melhoria progressiva da vida dos portugueses”, disse, enumerando depois algumas consequências das políticas do Governo, como a redução de 6% do preço do cabaz alimentar depois da medida do IVA zero, ou os apoios sociais que chegam às pessoas este mês de maio, nomeadamente no que diz respeito à bonificação dos juros do crédito à habitação ou os apoios às famílias mais carenciadas para fazer face à inflação.
Resumindo, estabilidade e melhorar a vida dos portugueses. "Quanto ao fundo e à essência, estamos totalmente convergentes”, insistiu.
Sobre o facto de o Presidente da República ter dito que iria apertar a vigilância ao Governo, Costa voltou a desdramatizar: “Os portugueses confiam e desejam essa vigilância activa por parte do PR e o Governo não é exceção”.
O rabo de palha é, contudo, o ministro João Galamba, que António Costa voltou a segurar com unhas e dentes - depois de Marcelo ter reduzido a sua autoridade política a nada. Costa, contudo, olhou para o copo meio cheio: as condições para o ministro continuar no cargo medem-se “pelos resultados”, e os resultados são, por exemplo, o acordo a que o ministro chegou por estes dias para pôr termo a uma greve na CP “que afeta o dia a dia dos portugueses”. Sobre a TAP, nem uma palavra.
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