Santana Lopes diz que as “palavras de Marcelo” sobre a dissolução do Parlamento têm sido “contraditórias”
Manuel de Almeida / Lusa
Ex-primeiro ministro diz “compreender” os argumentos de Marcelo Rebelo de Sousa para não serem realizadas eleições antecipadas, mas, em entrevista à SIC Notícias, considera que o próprio Presidente da República “tem falado muito sobre o poder da dissolução”
Pedro Santana Lopes diz que o Presidente da República tem apresentado “sinais contraditórios” quanto à eventual dissolução do Parlamento, depois de esta segunda-feira Marcelo Rebelo de Sousa ter rejeitado a possibilidade de se realizarem eleições antecipadas, apesar do desgaste do Governo e da polémica na TAP.
Em entrevista à SIC Notícias na noite desta segunda-feira, o ex-primeiro ministro e atual presidente da câmara da Figueira da Foz diz “compreender” os argumentos do Presidente da República para não dissolver o Parlamento (Marcelo lembrou que “uma eleição significa perder quatro meses” numa altura de “crise financeira e económica que se agrava com a guerra”).
No entanto, “com toda a franqueza”, Santana Lopes diz que “as palavras do Presidente” têm sido “contraditórias”. Há cerca de um mês, Marcelo classificou o Governo de António Costa como uma “maioria requentada, cansada, que demorou a formar-se”, o que o levou a crer que Marcelo poderia estar a “ponderar a dissolução”.
“Todos sabemos que Marcelo Rebelo de Sousa tem falado muito sobre o poder da dissolução, não prescinde dele e se for preciso usa esse poder”, disse ainda o antigo líder do PSD. E acrescentou: “Vamos à história recente: quem é que dissolveu a Assembleia há um ano e meio por não ser aprovado o Orçamento [do Estado]? É algo raríssimo nas democracias europeias”.
À semelhança do Chefe de Estado, Pedro Santana Lopes tampouco quer que haja eleições antecipadas, preferindo o Governo a “trabalhar bem”, “tal como os portugueses”. Mas há um argumento dado por Marcelo sobre o qual Santana Lopes discorda: o facto de não existir “uma alternativa suficientemente forte”.
“O Presidente diz que [agora] não há alternativa e por isso não dissolve [a Assembleia], então e quando dissolveu da última vez havia?”, questiona ainda. Para o ex-primeiro ministro, “não é argumento” dizer que não há alternativa porque, “se formos a eleições, a alternativa surge” inevitavelmente.
Na entrevista à SIC Notícias, Santana Lopes lembrou também que “é normal o ciclo do Governo estar a esgotar-se” — “faz parte da própria natureza humana e da política”. E, questionado sobre como Marcelo pode ajudar a normalizar o “ambiente quente” da política portuguesa, o autarca atirou: “O Presidente pode fazer pouco, a não ser calar-se mais”.
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