Política

Relações com Costa estão num momento "intenso", mas não diferente. "Somos muito previsíveis", diz Marcelo

Relações com Costa estão num momento "intenso", mas não diferente. "Somos muito previsíveis", diz Marcelo
Bienvenido Velasco

"Já pensaram bem a monotonia que seria se o Presidente repetisse aquilo que o primeiro-ministro quer que ele diga, ou se o primeiro-ministro estivesse sempre de acordo com o Presidente? Era uma monotonia", disse

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou hoje que as suas relações com o primeiro-ministro, António Costa, "estão exatamente como sempre estiveram", acrescentando são ambos "muito previsíveis" e não vão mudar até 2026.

O chefe de Estado falava aos jornalistas num hotel de Santo Domingo, onde irá participar na 28.ª Cimeira Ibero-Americana, entre hoje e sábado, juntamente com o primeiro-ministro, António Costa, que deverá chegar à capital da República Dominicana ao fim do dia, vindo de Bruxelas.

Interrogado sobre como estão as suas relações com o primeiro-ministro, após ter defendido que deve ser um "Presidente interventor" para "contrabalançar" a maioria absoluta do PS, Marcelo Rebelo de Sousa declarou: "Estão exatamente como sempre estiveram".

"Nós somos muito previsíveis. Eu conheço-o desde os 19 anos de idade, ele não muda e eu não mudo. Aos 19 anos de idade a pessoa está mais ou menos formada, e eu na altura tinha para aí 30 e poucos anos, também já estava formado", acrescentou, referindo-se ao tempo em que António Costa foi seu aluno na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

"Até ao fim das nossas vidas, o que quer dizer em termos de vida política até ao fim deste percurso comum até 2026, nem ele vai mudar nem eu vou mudar", anteviu.

Questionado se o diálogo entre os dois continua a funcionar bem, o chefe de Estado respondeu: "Claro, claro, claro, funciona muito bem. De vez em quando tem assim momentos mais intensos, outros menos intensos, mas isso é a riqueza da democracia. Já pensaram bem a monotonia que seria se o Presidente repetisse aquilo que o primeiro-ministro quer que ele diga, ou se o primeiro-ministro estivesse sempre de acordo com o Presidente? Era uma monotonia".

Numa altura em que tem expressado divergências em relação ao pacote do Governo para a habitação, em especial quanto à intenção de legislar sobre o arrendamento obrigatório de casas devolutas, o Presidente da República assumiu que tem havido recados de parte a parte: "Mas é natural. Temos feitios diferentes. Quem olhar para os dois sabe que temos personalidades diferentes e feitios diferentes".

Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que "quem tem de executar tenha por vezes situações muito irritantes que naturalmente provocam uma preocupação acrescida".

Como Presidente, disse que "aos olhos da opinião pública aparece como sendo uma pessoa com uma vida mais fácil", mas que "também tem situações muito difíceis, também tem, porque partilha essas situações" do Governo.

"Não é fácil, porque há momentos em que o primeiro-ministro só atua com a cobertura do Presidente, e precisa da cobertura do Presidente, e antes de dar um passo pergunta: Senhor Presidente, tem a certeza, vamos fazer isto na política isto? Senhor Presidente, fazemos isto na política de defesa? Senhor Presidente, acha bem esta coisa diplomática? Na pandemia, o que é que pensa?", exemplificou.

Reforço da ação social em vez de alteração nas propinas

O Estado deve reforçar a ação social, em vez de alterar as propinas no ensino superior, defendeu ainda o Presidente da República a propósito do manifesto assinado por dezenas de personalidades sobre esta matéria."Provavelmente o Governo aí terá de mexer na ação social, para não estar a mexer nas propinas", disse.

Referindo que "há um grupo de professores que quer mexer nas propinas", o chefe de Estado argumentou que "mexer nas propinas pode ter o problema das instituições que têm aí uma receita própria e ficam de repente sem a receita".

"Acho que deve ser o Estado a reforçar a ação social e a criar condições de maior justiça nessa ação social", contrapôs o Presidente da República.

Dezenas de personalidades, entre as quais o antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor e a ex-ministra da Modernização Administrativa Alexandra Leitão, assinam um manifesto hoje divulgado no jornal Público contra o sistema de propinas defendido pela OCDE e a favor do seu fim gradual.

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