Política

Marcelo sublinha critério institucional: "A visita de Estado é do presidente brasileiro, não é do sr. Lula da Silva nem do sr. Bolsonaro"

Em novembro, Marcelo recebeu Lula da Silva, já eleito, mas ainda não empossado
Em novembro, Marcelo recebeu Lula da Silva, já eleito, mas ainda não empossado
RODRIGO ANTUNES

O Presidente da República diz que não deve ser a preferência política a ditar se Lula da Silva fala ou não no Parlamento. Marcelo quer que a visita do Chefe de Estado brasileiro “corra bem” e coloca o critério institucional acima dos outros. Quanto à decisão, está nas mãos da Assembleia da República

Marcelo sublinha critério institucional: "A visita de Estado é do presidente brasileiro, não é do sr. Lula da Silva nem do sr. Bolsonaro"

Vítor Matos

Jornalista

Primeiro, este sábado, o Presidente da República deixou implícita uma censura ao ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, por ter desrespeitado a separação de poderes entre Governo e Parlamento, quando anunciou que o Presidente brasileiro Lula da Silva ia discursar na cerimónia solene do 25 de Abril. "Há que respeitar a competência da Assembleia da República e o funcionamento da separação de poderes", disse Marcelo Rebelo de Sousa. Agora, este domingo, o Presidente tentou serenar os ânimos pedindo às forças políticas para o critério usado não ser o da pessoa que ocupa o cargo, mas sim o critério institucional.

“É muito importante que a visita do Presidente do Brasil, seja ele quem for, corra muito bem, porque só ganhamos em ter as melhores relações possíveis com o Brasil”, recomendou Marcelo aos vários intervenientes que se têm pronunciado sobre a questão. Ainda este domingo o líder do PSD, Luís Montenegro, disse que era preciso solucionar a “gafe imperdoável” do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, exatamente para preservar as relações com o Brasil. Mas manifestou-se contra a possibilidade de ser Lula da Silva a falar na sessão do 25 de Abril, por ser uma cerimónia onde quem deve falar são “os representantes dos portugueses”.

“Já disse ontem de forma muito clara que a celebração do 25 de Abril não deve ser feita pela mera celebração saudosista, mas olhando para o presente e para o futuro”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em Coimbra, depois de ter atribuído a Ordem do Mérito Empresarial na Classe Mérito Agrícola à Confederação Nacional da Agricultura. A seguir, foi ao ponto que tem dividido os partidos, que criticam a possibilidade de Lula da Silva discursar no Parlamento, sublinhando que o critério institucional é que deve prevalecer, para recordar que este Presidente foi a escolha democrática dos brasileiros: “A visita de Estado é do presidente brasileiro, não é o do sr. Lula da Silva nem do sr. Jair Bolsonaro. O que interessa é que é o presidente do Brasil. Os brasileiros escolheram quem queriam e, portanto, está escolhido o presidente do Brasil”.

“Não se trata do sr. A ou do sr. B”, acrescentou Marcelo. “Eu gosto do A ou do B, eu escolhia de outra maneira, mas os brasileiros escolheram quem acharam que deviam escolher, no sentido que só eles podiam escolher e não os portugueses”.

Quanto a uma eventual intervenção de Lula da Silva no Parlamento, o Presidente voltou a dizer que a decisão cabe à Assembleia da República, sem se pronunciar sobre se devia ocorrer na cerimónia oficial ou num plenário normal. Só pediu para a decisão não ser tomada ad hominem. “A Assembleia da República dirá o que entende. Já houve casos em que chefes de Estado estrangeiros falaram na AR, noutros casos não falaram. Isso é uma decisão da AR. O que penso que não faz sentido é que ao apreciar essa questão, no quadro de uma visita de Estado, seja à luz de ser o ‘A’, por isso ‘não gosto que fale’. É uma questão de preferência política, não faz sentido”, insistiu Marcelo Rebelo de Sousa.

“Ao tratar-se da visita de Estado, e tenho tratado sempre assim com todos os chefes de Estado nomeadamente eleitos em democracia, deve-se olhar é para o Estado que representam, neste caso um estado muito importante para nós”, justificou Marcelo. “Porque há muitos, muitos portugueses lá e muitos, muitos brasileiros cá, falamos a mesma língua e o Brasil é a maior potência em termos económicos e culturais e de língua portuguesa”.

O Presidente ainda explicou que houve uma coincidência de datas “porque 22 de abril é o dia da comunidade luso-brasileira”. Como se gere essa coincidência. “A Assembleia da República o dirá”, disse Marcelo, que no dia 8 de setembro discursou no Congresso de Basília na cerimónia de comemoração dos 200 anos da independência do Brasil.

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