Política

Bispo quer travar “passa-culpas” sobre palco-altar: caderno de encargos foi de Lisboa, mas a responsabilidade é de todos

Bispo quer travar “passa-culpas” sobre palco-altar: caderno de encargos foi de Lisboa, mas a responsabilidade é de todos
TIAGO PETINGA

Américo Aguiar assinala quatro anos da escolha de Lisboa como sede da Jornada com a garantia de que “tudo vai ser tratado de maneira diferente” do que foi quanto ao palco principal. Vaticano já se demarcou do projeto. Santos Silva não viu “nenhuma contestação social”

Caderno de encargos, consulta a várias empresas e adjudicação a uma delas por mais de quatro milhões: tudo feito pela SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, a empresa municipal responsável pelas obras em Lisboa. A assinalar os quatro anos desde a escolha de Portugal como sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o bispo Américo Aguiar repetiu a ideia que tinha deixado na quinta-feira e que aponta para Lisboa como a principal responsável pelos valores entretanto conhecidos para o altar-palco no Parque Tejo. Mas também disse: “a responsabilidade é das entidades organizadoras”, ou seja, Câmara de Lisboa, Governo e Igreja. “É nossa”, vincou.

O bispo insistiu, aliás, que o “passa-culpas não resolve o problema a ninguém” e deixou nota de que “todos os processos que temos em mãos”, e que incluem outros palcos, “vão ser tratados de maneira diferente”. Leia-se, a Igreja quer evitar novas surpresas, custos elevados e contestação pública. Ou, como disse o bispo, “evitar que aconteça o que aconteceu”.

A visita teve a presença de Augusto Santos Silva, que, como segunda figura do Estado, inaugurou mais uma placa no quartel-general em que se prepara a Jornada, na zona do Beato, em Lisboa — “Beato”, nome apropriado, gracejou o presidente da Assembleia da República.

A ocasião para comemorar estava, no entanto, ensombrada pela última semana, em que os custos da JMJ dominaram o debate público. Américo Aguiar agradeceu novamente “o escrutínio da comunicação social” e sugeriu mesmo que é graças a ele que “vamos sentar-nos para a semana, para que possamos pegar no documento e separar o que é essencial do que não é”. Sem dizer de que é que a Igreja está disposta a abdicar ou alterar.

Sem especificar também o dia, o bispo deixou a garantia de que todas as entidades, Mota Engil, Câmara de Lisboa, através da SRU, unidade de missão e Igreja, vão tentar encontrar uma solução mais barata. A saída não se adivinha fácil, uma vez que o contrato está feito e, como afirmou na quinta-feira à noite o vice-presidente de Lisboa, Anacoreta Correia, “realisticamente, parece difícil” fazer grandes alterações ao projeto.

Esta tarde também o Vaticano se demarcou de qualquer relação ou exigência acerca do altar.

As referências são sobre o altar-palco principal, que vai ficar no Parque Tejo, já adjudicado à Mota Engil, mas há outros. Como o Expresso avançou na quinta-feira, o projeto que estava a ser pensado para o Parque Eduardo VII, que acolhe o Papa à chegada, custaria acima de um milhão de euros. Marcelo Rebelo de Sousa fez pressão para o travar, a Igreja e a Câmara de Lisboa seguiram a ordem. Falta saber que solução encontram.

Américo Aguiar, ao centro, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da JMJ Lisboa 2023, não esconde o entusiasmo na sede da organização da Jornada, na antiga Manutenção Militar, no Beato, em Lisboa, 28 de julho de 2022
TIAGO PETINGA

Santos Silva não vê contestação social

A visita foi curta, cerca de 20 minutos nas instalações do Beato, e as declarações também. Augusto Santos Silva lembrou até que não tem “funções que permitam” responder a algumas perguntas, que foram todas direcionadas para a questão dos custos.

Ainda assim, o presidente da AR disse “nenhuma contestação social” depois de conhecidos alguns desses custos. Pelo contrário: “Vejo grande júbilo em todo o país.”

Santos Silva afirmou ainda que a análise sobre a Jornada não deve ser reduzida “à análise de custo-benefício”, mas que, a ser feita, essa análise mostra “evidentemente um enorme benefício que Portugal”.

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