Política

"Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa", diz Costa sobre resposta a Moedas

"Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa", diz Costa sobre resposta a Moedas
RODRIGO ANTUNES/LUSA

Está “encerrado” o diferendo entre António Costa e Carlos Moedas sobre a falta de contacto a propósito das cheias. “Estava cheio de sono, foi uma expressão infeliz”, admitiu Costa, que não tem prevista nenhuma visita aos locais mais afetados

"Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa", diz Costa sobre resposta a Moedas

Rita Dinis

Jornalista

A pergunta dos jornalistas era sobre a expressão usada por António Costa numa entrevista à Visão para se referir aos liberais, que apelidou de “queques que ficam ridículos quando tentam guinchar”, mas o primeiro-ministro queria esclarecer o uso de outra expressão - a que dirigiu indiretamente a Carlos Moedas quando, em Bruxelas, foi questionado sobre o porquê de não ter telefonado ao autarca de Lisboa a propósito dos enormes estragos provocados pelas cheias.

“Essa expressão é apenas coloquial”, começou por dizer esta sexta-feira em relação aos termos escolhidos para se referir aos liberais. Mas “se quer falar sobre expressões infelizes, tive ontem à noite uma expressão infeliz, depois de 14 horas de reunião, estava cheio de sono e fiz um aparte irritado, peço desculpa”, disse António Costa aos jornalistas no final de uma cerimónia no Instituto de Segurança Social, em Lisboa.

Em causa estava a resposta que o primeiro-ministro deu a um jornalista na quinta-feira à noite, em Bruxelas, quando lhe foi perguntado sobre o facto de não ter ligado ao presidente da câmara de Lisboa a propósito das inundações na capital. Na altura, num aparte no final da conferência de imprensa, Costa atirou: também poderia “perguntar porque é que ele não me telefonou a mim quando tive a minha casa inundada”.

Foi uma expressão “infeliz”, reconhece agora, recusando no entando que tenha de se retratar junto de Carlos Moedas, quando o próprio já disse que o assunto estava encerrado. Esta sexta-feira, Moedas desvalorizaria o incidente dizendo que “ligar ou não ligar não é importante, é importante é que as soluções cheguem”.

Quanto à expressão dos “queques que ficam ridículos” quando tentam imitar a forma do Chega, António Costa desvalorizou: “Foi coloquial, e até é um elogio ao dr. Cotrim de Figueiredo”, sugeriu, atirando ainda que a ideia de que “os primeiros-ministros são uma espécie de bonecos de feira a quem se atira bolas e que têm de apanhar e engolir” não faz sentido. “A vida não é assim”.

Já sobre as inundações na capital, Costa desvalorizou o facto de não ter ido pessoalmente ao terreno - acrescentando que não está prevista nenhuma visita sua nos próximos dias. “Não tenho o dom da ubiquidade e o governo é uma equipa, a ministra da Coesão tem ido a umas áreas, a ministra da Presidência a outras e o Governo tem estado em contacto com os autarcas”, disse, garantindo que a resposta está a ser dada de forma “adequada”.

Mais crescimento e inflação mais duradoura

Questionado sobre as previsões do Banco de Portugal, atualizadas esta sexta-feira, António Costa fala numa boa notícia e numa notícia que “suscita atenção” e exige acompanhamento permanente. A boa notícia é a previsão de crescimento da economia portuguesa para este ano e para o próximo que foi revista em alta e que “supera as melhores expectativas do governo” (que era acusado de ser optimista); a notícia apreensiva tem a ver com as expectativas sobre a inflação, que se está a revelar muito mais duradoura do que previam os bancos centrais.

“Os bancos centrais têm vindo a rever as expectativas sobre inflação, considerando que é um fenómeno mais prolongado do que tinham previsto inicialmente - as previsões apontavam para um crescimento da inflação até junho passado e está visto que não foi assim, embora já se preveja uma pequena desaceleração”, disse o primeiro-ministro aos jornalistas, defendendo de seguida a política seguida pelo governo de manter as contas certas e, havendo folga, dar apoios às famílias que mais precisam.

Foi o que aconteceu com o anúncio feito esta semana de mais 240 euros para as famílias mais vulneráveis, que, no entender de Costa, não é uma “prenda de Natal”, é sim “uma necessidade efetiva que as famílias têm face ao aumento do custo de vida” deste ano. O mesmo Costa não prevê que venha a acontecer para o ano, uma vez que o Orçamento do ano que vem já tem em vista uma atualização das prestações sociais (através do referencial do IAS) na ordem dos 8,4%, bem como uma atualização do salário mínimo na ordem dos 7%: “portanto, para o ano o aumento dos rendimentos cobre a inflação, este ano é que isso não acontecia”, disse, justificando os apoios extraordinários dados este anos, que, em alguns casos, ascendem a um total de mais de 700 euros pagos de forma isolada ao longo do ano.

Respondendo às críticas sobre o défice, ainda assim, ser mais baixo do que estava previsto (passa de 1,9% do PIB para 1,5%), Costa rejeita que o Governo esteja a guardar folga orçamental em vez de dar a quem precisa, justificando o melhor défice apenas com o crescimento mais acentuado da economia.

“O nosso compromisso era devolver às famílias e empresas a receita extraordinária que tivéssemos em função da inflação. Desde março que temos vindo a devolver”, disse, dando também o exemplo dos combustíveis, onde o Estado devolve a receita extraordinária do IVA diminuindo o ISP. “Os apoios extra que temos dado excedem em muito o aumento da receita do IVA e a receita extraordinária que resultou do aumento dos preços”, disse. O ponto, segundo o primeiro-ministro, é que a realidade superou as previsões do governo: mais crescimento económico faz com que haja mais margem para ajudar. A ordem vai continuar a ser a mesma: prudência e contas certas.


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