Montenegro garante que não assinaria acordo sobre energia e critica “tom democraticamente lamentável” de Costa
Luís Montenegro
MIGUEL A. LOPES/LUSA
Para o presidente do PSD, o primeiro-ministro deu “sinal de que está nervoso” ao acusar Paulo Rangel de nada perceber de energia. Mas, daqui a quatro anos, Costa “não será primeiro-ministro nem haverá um quilómetro executado” do plano acordado com Espanha e França, prognostica
O presidente do PSD assegurou esta segunda-feira que não assinaria o acordo sobre interconexões energéticas “nos termos em que foi anunciado”, e considerou “democraticamente lamentável” a forma como o primeiro-ministro respondeu ao seu partido sobre este tema. “Dirigiu-se ao PSD num tom que vem no encalço do uso e abuso da maioria absoluta, como que não dando à oposição legitimidade para criticar e sujeitar o Governo ao escrutínio que é devido”, criticou Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas, na sede nacional dos sociais-democratas.
O primeiro-ministro manifestou-se perplexo com as críticas do PSD ao princípio de acordo entre Portugal, Espanha e França para as interconexões energéticas europeias e acusou o dirigente social-democrata Paulo Rangel – que no fim de semana disse que o acordo é “mau e prejudicial” ao interesse de Portugal – de nada perceber do assunto.
“É sinal de que está nervoso”, apontou o presidente social-democrata, referindo-se ao chefe do Governo. Ainda assim, Montenegro deixou um apelo a António Costa para que aceite o debate de urgência na Assembleia da República já proposto pelos sociais-democratas e que será decidido na terça-feira numa conferência de líderes extraordinária, fazendo um apelo “à serenidade e espírito democrático do Governo”. “Se há forma de podemos esgrimir argumentos e dirimir divergências é debatendo, é podendo estar olhos nos olhos no local próprio que é o Parlamento. Só podemos contar que o PS não se vá furtar a esse debate. O primeiro-ministro está no Parlamento na quarta e na quinta-feira. É perfeitamente possível termos esse debate no final da discussão sobre o Orçamento do Estado”, considerou.
Montenegro salientou ainda que Paulo Rangel, eurodeputado e primeiro vice-presidente dos sociais-democratas, “fala em total articulação com o presidente do PSD”. “Tomara o primeiro-ministro ter ministros tão entrosados como está esse vice-presidente com o presidente do PSD”, disse. E foi ainda mais longe ao prognosticar que daqui a quatro anos Costa “não será primeiro-ministro nem haverá um quilómetro executado” do plano acordado com Espanha e França. No essencial, repetiu as críticas do seu primeiro vice-presidente ao considerar que o acordo irá “secundarizar o porto de Sines” e “não garante as duas interligações elétricas através dos Pirenéus”.
Questionado sobre se o seu partido não assinaria este acordo, que o Presidente da República considerou ser “o possível” para ultrapassar as objeções de França, Montenegro foi claro. “O PSD não assinaria este acordo nos termos em que ele foi anunciado”, disse, acusando ainda o primeiro-ministro de se ter “ficado pelas meias verdades” neste assunto, tal como já tinha feito em relação ao aumento das pensões. Para o líder do PSD, “começa a ser um padrão” o primeiro-ministro apresentar ao país “resultados que nada têm a ver com a realidade”.