O Presidente da República considera que não é um número “elevado” os mais de 400 testemunhos de abusos sexuais praticados por membros da Igreja Católica e divulgados esta terça-feira pela comissão independente. “Num universo de milhões, haver 400 casos não me parece particularmente elevado”, disse Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas no Palácio de Belém, à margem de um encontro com a associação CIVICA - Autarcas de Origem Portuguesa em França.
Na mesma ocasião, o chefe de Estado disse não estar preocupado com o impacto de sucessão de casos na próxima Jornada Mundial da Juventude, que ocorrerão em Lisboa, com a presença do Papa, em 2023.
“Nunca se é manchado quando se tenta apurar a verdade”, afirmou , defendendo que “todas as instituições confrontadas com comportamentos criminosos estão obrigadas a fazer uma revisão de vida”.
Marcelo recordou que tem acompanhado os trabalhos da comissão independente desde o seu início, tendo já recebido os seus membros várias vezes no Palácio de Belém.
Esta terça-feira, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa divulgou que já recebeu 424 testemunhos, Segundo o seu coordenador, Pedro Strecht, a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
O Presidente da República tem tido várias intervenções polémicas no âmbito do levantamento de casos de abusos na Igreja Católica. Em julho, saiu em defesa dos cardeais Manuel Clemente e José Policarpo por alegados encobrimentos de casos de abuso na diocese de Lisboa. Já em setembro enviou para o Ministério Público queixas recebidas em Belém por alegdo encobrimento de um caso em Moçambique por parte do atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, e depois envolveu-se em justificações sobre o facto de ter avisado o bispo sobre o envio da queixa.
O Bloco de Esquerda já criticou as declarações de Marcelo desta terça-feira. "400 queixas de abusos de menores validadas pela Comissão Independente e o comentário do Presidente da República é "o número não é particularmente elevado". É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável Fosse um caso apenas e já era preocupante", escreveu o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, nas redes sociais, onde também escreve que a intervenção do PR é “insulto às mais de 400 vítimas”.
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