Política

Costa garante que pensionistas "não perdem um cêntimo". Em 2024, "logo vemos"

António Costa
António Costa
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Em declarações aos jornalistas em Faro, António Costa respondeu às críticas sobre “truque” nas pensões. Primeiro-ministro garante que até ao final de 2023 os pensionistas vão receber o aumento de cerca de 8% a que tinham direito por lei e que em 2024 ninguém vai receber menos do que em 2023, mas deixou em aberto aumentos futuros - que serão sempre menores - alegando que pode estar em causa a sustentabilidade da Segurança Social. “Quando discutirmos o aumento para 2024, logo vemos”

Costa garante que pensionistas "não perdem um cêntimo". Em 2024, "logo vemos"

Rita Dinis

Jornalista

Atacado por todos os lados por causa do “truque” criado em torno das pensões, o primeiro-ministro foi esta quarta-feira forçado a explicar o que vai, afinal, acontecer às pensões nos próximos anos. Jogando com as palavras, Costa garante que não haverá qualquer corte nominal nas pensões e que ninguém “receberá menos” no final de 2023 do que teria direito, nem menos em 2024 do que em 2023, mas admite que a lei que permite aos pensionistas receber mais por causa da inflação pode “pôr em causa a sustentabilidade da Segurança Social”. E, nesse sentido, não será cumprida na íntegra.

Em causa está o facto de a lei de atualização das pensões, ao contrário do que acontece com a atualização dos salários, decretar que o aumento das pensões é feito em função do crescimento do PIB e da variação média da inflação no último ano. Com a inflação historicamente alta, tal significa que os pensionistas teriam direito, em 2023, a um aumento na ordem dos 7,1 a 8%. Com as medidas agora anunciadas, o Governo reparte esse aumento em dois momentos, dando o equivalente a metade do aumento previsto já em outubro, numa espécie de ‘balão de oxigénio’, mas aumentando depois só metade do que seria previsto no ano que vem. Problema: o bónus de outubro, além de estar sujeito a impostos, não entra para o vencimento base, pondo em causa a dimensão dos aumentos futuros.

“Os pensionistas vão ter um aumento que compensa a inflação e que garante que, até ao final de 2023, todos receberão o mesmo que receberiam se cumpríssemos a fórmula na íntegra”, disse, lembrando que os pensionistas “sabem o que é cortar pensões, que é estarem a ganhar 100 num dia e no dia a seguir ganharem menos, e o que nós estamos a fazer não é isso”. É, contudo, um corte, face à fórmula de aumento prevista por lei. Ou seja, em 2023 a pensão base que servirá de cálculo às pensões futuras será menor do que seria se a lei tivesse sido cumprida na íntegra, sem o bónus de outubro.

Como o Expresso escreveu, no curto prazo os pensionistas terão mais dinheiro no bolso mais cedo, numa altura em que o custo de vida está a disparar mas, a médio e longo prazo, com esta fórmula criativa vão perder dinheiro. Quanto? De acordo com simulações feitas pelo economista e professor da Universidade Nova de Lisboa, Jorge Bravo, para o Expresso, um reformado de 65 anos poderá perder, em média, cerca de 600 euros por ano até ao final da vida - face ao que ganharia se a atual lei fosse cumprida na íntegra.


A lei, criada em 2006 pelo então ministro António Vieira da Silva, e amplamente elogiada por António Costa, está agora em causa uma vez que nunca antes se registaram níveis de inflação tão elevados. E António Costa admite isso mesmo: “transformar a inflação deste ano num impacto permanente poria em causa a sustentabilidade futura da Segurança Social (…) e todos sabem que quando chegar a vez dos mais novos receberem reforma, a Segurança Social tem de estar sólida”.

Mais: “Temos consciência do grau de incerteza em que vivemos, alguém sabe se a guerra termina em 2024? Alguém sabe qual vai ser a inflação de 2024?”, atirou o primeiro-ministro, deixando em aberto o que vai acontecer em 2024 e desvalorizando quem está a pôr a tónica nos aumentos - maiores ou menores - desse ano.

“Tal como estivemos a responder às necessidades de aumento do rendimento, cá estaremos daqui a um ano para, em função da realidade da inflação e da economia do país, podermos fixar o aumento para 2024. Ninguém perderá um cêntimo ate final de 2023 [em termos nominais] e em 2024 ninguém vai receber menos do que recebeu em 2023. Quando discutirmos o aumento para 2024, logo vemos”, concluiu.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: rdinis@expresso.impresa.pt

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