Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho, irão a Luanda para o funeral de José Eduardo dos Santos. A informação foi dada por Marcelo à chegada ao edíficio Impresa, onde esta sexta-feira veio gravar um programa no âmbito dos 50 anos do Expresso.
"O Presidente José Eduardo dos Santos teve como interlocutores todos os presidentes da democracia portuguesa, que é um caso único. Foram muitas décadas de relacionamento entre Angola e Portugal, Portugal e Angola e, naturalmente, todos os governos que, entretanto, coincidiram com esses mandatos, o que significa que foi um protagonista decisivo desde o final dos anos 70 até à substituição pelo Presidente João Lourenço, em 2019", disse o Presidente português, anunciando que a sua nota de pesar seria publicada em breve no site da Presidência.
"É evidente que já apresentei as condolências ao Presidente João Lourenço, telefonicamente. Portugal estará representado nas exéquias pelo Presidente e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros", disse ainda Marcelo, concluindo que José Eduardo dos Santos "é uma personaldiade que marcou as relações num período especialmente sensível, que foi o período imediatamente a seguir à pós-independência em Angola e também quando em Portugal estava a institucionalizar-se a democacia".
A habitual nota de pesar já foi, entretanto, publicada no site da Presidência. Além de manifestar as condolências a Angola, Marcelo também faz referência à importância de Eduardo dos Santos para o arranque da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Portugal testemunha o respeito devido a essa longa memória, em período determinante para o nascimento e o arranque da CPLP e do engrandecimento das nossas relações bilaterais após a descolonização", lê-se na mensagem que demorou cerca de duas horas a ser publicada depois da notícia da morte do ex-Presidente angolano. Bem diferente da rapidez que é habitual neste tipo de mensagens e do que aconteceu ainda esta sexta-feira de manhã com a nota de pesar pelo falecimento do ex-ministro japonês, publicada poucos minutos depois da notícia da morte.
Augusto Santos Silva
O presidente da Assembleia da República realçou o “contributo determinante” do ex-chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos para a construção da paz em Angola, e enviou sentidas condolências ao povo angolano e à Assembleia Nacional deste país.
Esta posição foi transmitida por Augusto Santos Silva, ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, numa mensagem que divulgou na rede social Twitter em reação à morte de José Eduardo dos Santos, aos 79 anos, numa clínica em Barcelona, em Espanha, após semanas de internamento.
“Na morte de José Eduardo Santos recordo o seu contributo determinante para a construção da paz em Angola. Transmito sentidas condolências à Assembleia Nacional e a todo o povo angolano”, escreveu o presidente da Assembleia da República.
Cavaco Silva
O antigo Presidente da República Cavaco Silva enviou esta sexta-feira “as mais sentidas condolências” à família do ex-chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos, que recordou como um “artífice decisivo na construção da paz”.
“No momento da morte do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, envio à sua família as mais sentidas condolências e ao povo amigo de Angola uma palavra de conforto pela partida de uma notável figura nacional”, dá conta uma nota do gabinete de Cavaco Silva enviada à Lusa.
O antigo Presidente português recorda Eduardo dos Santos como “um artífice decisivo na construção da paz e da reconciliação nacional da nação angolana”, com quem mantinha “uma duradoura relação de confiança, que permitiu ultrapassar as dificuldades que marcavam as relações” entre os dois países na década de 1980.
“Testemunhei o seu firme empenho pessoal e as decisões particularmente difíceis e complexas que tomou. Com José Eduardo dos Santos, de inteligência fina, convincente na argumentação, sereno e sábio no uso da palavra, foi possível reforçar a cooperação entre Portugal e Angola”, considerou o ex-chefe de Estado de Portugal.
Ao longo dos anos, prosseguiu Cavaco Silva, a relação entre Portugal e Angola passou “da desconfiança” à “amizade e isso deve-se, em grande medida, a José Eduardo dos Santos”.
“Neste momento de despedida, presto-lhe a minha homenagem”, finalizou.
Ana Gomes
A ex-embaixadora Ana Gomes considerou hoje que José Eduardo dos Santos chegou a ser “uma promessa de transição para a democracia” em Angola, mas optou pelo “desenvolvimento de uma cleptocracia a favor de uma elite”.
“José Eduardo dos Santos chegou a ser uma promessa de transição para a democracia e tornar uma Angola mais desenvolvida e mais justa, mas essa promessa esboroou rapidamente”, disse à Lusa a ex-candidata à Presidência da República Portuguesa, no dia em que o antigo presidente angolano morreu.
Ana Gomes afirmou que essa promessa ocorreu com o fim da guerra em 2002, “mas sob o regime do todo-poderoso José Eduardo dos Santos, ele optou por aquilo a que eles justificavam como uma acumulação primitiva de capital e pelo desenvolvimento de uma cleptocracia em favor de uma elite que inclui a sua família e os seus mais próximos contra o povo deixado na miséria”.
A antiga deputada socialista lamentou também que esse processo “de suposta transição para a democracia que se esboroou” tenha tido “a cumplicidade de muitos responsáveis políticos portugueses, que ajudaram a contribuir para essa farsa, ao mesmo tempo que beneficiavam dos efeitos económicos de prestar” Portugal “a tornar-se na principal lavandaria para essa cleptocracia angolana”.
“Também Portugal acabou por ser contaminado por esse esquema cleptocrático, que começou desde logo por controlar os grupos de ‘media' portugueses porque sabiam da sua importância para a informação que é passada para Angola”, precisou.
Durão Barroso
“Ao tomar conhecimento da morte de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola entre 1979 e 2017, não posso deixar de lembrar com saudade o patriota angolano e o estadista, com quem tive a honra de trabalhar para a paz e a reconciliação nacional em Angola. Recordo sobretudo que este foi o processo que conduziu às primeiras eleições livres e democráticas em Angola, e como tal reconhecidas pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional.
Recordo alguém de excecional inteligência, que foi capaz de garantir a unidade nacional angolana num contexto geopolítico extraordinariamente difícil, que ficará indelevelmente na História de Angola, de África e também das relações de Angola com Portugal.
Este momento fúnebre e triste não é o adequado para fazermos um balanço completo da ação de José Eduardo dos Santos, e das muito complexas situações que Angola teve de enfrentar durante a sua presidência. Mas quero lembrar e reconhecer as palavras amigas que ele comigo sempre teve em relação a Portugal e a importância que sinceramente dava às relações entre os nossos dois países.
À família, aos amigos mais próximos, às autoridades angolanas e a todos aqueles que na nação amiga angolana hoje lamentam o seu desaparecimento, apresento as minhas mais sentidas condolências.”
PSD
O PSD reagiu à morte de José Eduardo dos Santos através de um curto comunicado em que salienta o papel do ex-Presidente angolano na construção da paz naquele país. "O PSD envia à família, ao Povo e ao Estado Angolano, as condolências pelo falecimento do ex-presidente José Eduardo dos Santos, evocando, nesta hora de luto, o seu papel na consolidação da independência e na construção dos alicerces da paz e da unidade nacional", diz a nota de pesar enviada às redações pelo PSD.
Bloco de Esquerda
Pelo Bloco, fala o líder parlamentar Pedro Filipe Soares. E para deixar críticas ao passado de José Eduardo dos Santos enquanto Presidente angolano, porque, justifica, “não podemos deixar que este momento sirva para limpar uma história que é manchada por esta triste realidade”.
A “triste realidade” a que se refere Pedro Filipe Soares é a de que “estamos a falar de uma pessoa que governou em função dos seus interesses, dos interesses da sua família e de uma pequena elite, contra todo o povo”.
Na curta declaração feita na Assembleia da República, o deputado bloquista apelida o período de governação de José Eduardo dos Santos de “autocrático, cleptocrático e responsável pelo assassinato de centenas de pessoas”.
Partido Comunista Português
O PCP é um dos primeiros partidos a reagir à morte de José Eduardo dos Santos, recordando “as tradicionais relações de amizade e solidariedade” entre o partido português e o MPLA, partido de que o ex-Presidente angolano foi cofundador e dirigente.
Escrevem os comunistas em comunicado que Eduardo dos Santos “desempenhou as mais altas responsabilidades à frente do MPLA e do Estado Angolano, como Presidente do Partido que conduziu o povo angolano à vitória sobre o domínio colonial português”, sublinhando por isso a contribuição do ex-chefe de Estado “para a conquista de paz pelo povo angolano e a reconstrução do seu país”.
Numa nota de “sentido pesar”, o PCP recorda os “tempos de duríssimos combates, com dificuldades e complexidades do processo, pela defesa e consolidação da independência nacional, contra a agressão imperialista e racista que causou ao povo angolano imensos sofrimentos”, bem como “do ascenso da luta em toda a África Austral que conduziu ao fim do regime de apartheid, para o qual Angola deu uma decisiva contribuição”.
Na nota assinada pelo gabinete de imprensa comunista, lê-se por fim que José Eduardo dos Santos contribuiu “para as relações entre o povo português e o povo angolano”.
Chega
O líder do Chega, André Ventura, manifestou os pêsames à família de José Eduardo dos Santos e ao povo angolano. Mas não deixou também de tecer duras críticas ao ex-chefe de Estado de Angola.
"Não podemos deixar de, reconhecendo a dor familiar, não esquecer o ditador, o homem que apesar das promessas de democratização, verdadeiramente nunca o conseguiu concretizar e usou o poder do Estado angolano para se prolongar e perpetuar no poder, às vezes com recurso à violência, à morte e à intimidação", declarou Ventura, nos Passos Perdidos.
Para o presidente do Chega, José Eduardo dos Santos deve ser recordado como o dirigente angolano, que "aglomerou toda a família, como uma verdadeira elite de poder, uma cleptocracia, com tiques de nepotismo muito profundos" e que o "Estado angolano está ainda hoje a pagar".
"É um dos principais responsáveis pelo empobrecimento angolano e a sua morte não apagará isso. O mal que foi feito nas relações entre Angola e Portugal. É um péssimo exemplo de nepotismo e cleptocracia que José Eduardo dos Santos deixa para futuro e para o continente africano", rematou.
LIVRE e IL
Contactados pelo Expresso, o grupo parlamentar da Iniciativa Liberal (IL) e o deputado único do Livre não quiseram reagir à morte de José Eduardo dos Santos.
PAN
Para a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, "ainda que se trate da perda de uma vida, o que é, por si, sempre algo a lamentar", o desaparecimento de José Eduardo dos Santos não fará esquecer o legado que o ex-chefe de Estado angolano deixou em termos sociais e económicos para o país. "Desde logo, não esquecemos que durante a sua governação se verificou uma asfixia democrática, marcada também por perseguição e prisão de opositores políticos e diversos condicionamentos à liberdade de expressão e de associação", afirma Sousa Real.
Mesmo com os "sinais de abertura" dos últimos anos, frisa a deputada do PAN, o país continua a sentir os seus efeitos, inclusive ao nível financeiro, "cuja dívida é equivalente à sua fortuna pessoal". E aponta ainda para a "ausência de políticas" promovidas por José Eduardo dos Santos que rumo "ao desenvolvimento sustentável" e o "combate à fome e à pobreza e a outras formas de desigualdade social" no país. "É algo que em muito se ficou a dever a um sistema cleptocrático – em que dinheiros públicos eram usados em benefícios de altos quadros políticos e empresariais – e de que José Eduardo dos Santos era o responsável máximo e relativamente ao qual diversos responsáveis políticos sempre mantiveram um inexplicável silêncio", acrescenta.
"Não podemos por isso deixar de repudiar o regime de terror, medo e perseguição que promoveu. Senão veja-se o caso de ativistas como Luaty Beirão, que procurou fazer despertar a comunidade internacional para o que se passava em Angola", conclui.