Política

Marcelo acompanha proposta de generais e defende recrutamento de imigrantes para as Forças Armadas

Marcelo acompanha proposta de generais e defende recrutamento de imigrantes para as Forças Armadas
HUGO DELGADO/EPA

O Presidente da República foi ao Fórum do Recrutamento transmitir uma ideia que um grupo de generais tinha publicado num livro apenas há um mês: a entrada de estrangeiros na tropa para obterem a nacionalidade.

O Presidente da República defendeu, esta terça-feira, que os imigrantes devem ser incluídos como “fonte de recrutamento para as Forças Armadas”, algo que já acontece “a título excecional” mas tem que ser “natural”. Marcelo Rebelo de Sousa falava no I Fórum Recrutamento organizado pela Força Aérea, no Teatro Thalia, em Lisboa, sob o tema dos desafios do recrutamento militar, numa fase em que as Forças Amadas têm registado dificuldades na obtenção de voluntários e de retenção de contratados para preencher o limite de efetivos.

A ideia veiculada por Marcelo Rebelo de Sousa foi publicada, há cerca de um mês, num livro do Grupo de Reflexão Estratégico Independente (GREI) - composto por cerca de 50 oficiais-generais na reforma - onde se propunha o recrutamento de estrangeiros como trade off para a obtenção da nacionalidade portuguesa. "A aceitação de candidaturas por parte de cidadãos provenientes dos PALOP poderia/deveria ser considerada como uma hipótese, face à proximidade histórica e cultural das populações destes países?", questionavam os generais.

Segundo o Chefe de Estado, “há desigualdades na sociedade portuguesa, bolsas de miséria e clivagens sociais e territoriais que condicionam as opções de recrutamento para as Forças Armadas. Basta olhar para alguns casos específicos de instituições que têm recrutamento quase local, em contextos em que é o que é mais apelativo e mais fácil para quem pode não ter de imediato outras alternativas naquele contexto muito específico”, acrescentou, na intervenção no Fórum. O livro do GREI, aliás, alertava para um problema que tem a ver com a vida militar como forma de sair das bolsas de miséria: o atual modelo de contrato e voluntariado poderia "conduzir a um tipo de serviço para os mais desfavorecidos e os menos habilitados, e poder propiciar, deste modo, que as Forças Armadas se pudessem constituir como fator de uma indesejada discriminação social".

Numa intervenção de cerca de 40 minutos, e com alguns jovens na plateia, sobre vários fatores relacionados com o recrutamento militar, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que “há que pensar em relação ao quadro permanente, como em relação aos regimes diversos contratuais, em ajustar aquilo que é possível ajustar, não apenas no recrutamento mas na organização, na comunicação interna, na comunicação externa, no funcionamento, àquilo que é a realidade das novas gerações mas é a realidade das sociedades”.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou, porém, ser “evidente que uma instituição tão prestigiada, tão forte, tão referencial como as Forças Armadas, por natureza é sempre mais lenta a mudar” mas “tem feito um esforço enorme para mudar aceleradamente”, não se comparando aos militares “do tempo colonial” ou do pós-Revolução dos Cravos, em 1974.

“Mas é uma tarefa dramática que se coloca aos parlamentos, governos, instituições internacionais que vão sempre atrás do prejuízo, atrás das mudanças que ocorrem. É um desafio difícil sobretudo por isto: porque a sociedade portuguesa é envelhecida”, salientou.

De acordo com o Presidente, há uma parte da sociedade portuguesa que “tem uma inércia para ver a instituição de uma forma que não tem nada a ver com aquilo que foi e que é hoje aqui apresentado como a aproximação das novas gerações à realidade das Forças Armadas”.

“Não é um problema apenas de dentro das Forças Armadas aqueles que são menos jovens terem dificuldade em mudar”, disse.

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