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“Relações internacionais fazem-se de empatias pessoais”, diz Marcelo no dia em que usou Defesa e Cultura para apertar laços com Moçambique

Ao fim do terceiro dia da sua visita a Moçambique, Marcelo conviveu num restaurante frente à Embaixada de Portugal
Ao fim do terceiro dia da sua visita a Moçambique, Marcelo conviveu num restaurante frente à Embaixada de Portugal
JOSÉ COELHO

No terceiro dia de visita, o Presidente condecorou dois artistas moçambicanos, visitou centros de treino militar, inaugurou uma escola e até citou o Corão. E mostrou que acredita que as relações pessoais valem mais que as ideologias

Eunice Lourenço, em Maputo

Podem a Cultura e a Defesa ajudar a manter Moçambique na esfera de Portugal e da União Europeia, distanciando-se mais da Rússia e da China? A pergunta, feita pelo Expresso, não teve resposta do Presidente da República, neste terceiro dia de visita oficial, dedicado de manhã à Defesa e de tarde à Cultura. Mas, indiretamente, Marcelo acredita que sim.

“As relações internacionais fazem-se de empatias pessoais. Toda a política se faz. Podem ser pessoas da mesma área sem empatia não dá, pessoas de áreas diferentes com empatia dá. E tem havido sucessivamente empatia entre os políticos portugueses e os políticos moçambicanos”, respondeu o PR, ao fim da tarde, num restaurante quase em frente ao Centro Cultural Português, onde foi conviver depois de condecorar dois artistas.

“Veja-se as referências ao dr. Jorge Sampaio. Vejam a referência ao primeiro-ministro português. Quase diria que o Presidente Nyusi gostaria de ter votado nele nas eleições legislativas”, continuou Marcelo, para quem também conta muito na relação entre os Estados o apoio nos momentos de dificuldade.

“Moçambique tem passado por momentos difíceis, com os furacões, com os ciclones e Portugal esteve sempre presente. Portugal tem estado presente no apoio financeiro”, elencou, para a seguir generalizar: “As pessoas pensam que a política de ideologias e doutrinas. Não, é feita sobretudo dos problemas concretos das pessoas: há um problema concreto, é preciso um apoio, é preciso vir o apoio.”

E é esse apoio, sobretudo na área da Defesa, que o Presidente se esforçou por mostrar este sábado, com duas visitas e centros de formação para militares moçambicanos, sobretudo na visita ao centro europeu de treino da força especial rápida destinada a combater o terrorismo em Cabo Delgado. E que vai continuar a reforçar com a visita este domingo ao centro de formação de Comandos, no Chimoio.

“A cooperação militar [bilateral] vem do início dos anos 90. Quantos formandos não houve já? Centenas!”, perguntou e respondeu ao fim do dia. E o mesmo no plano jurídico, onde há uma colaboração com 30 anos, que celebrou na sexta-feira, numa cerimónia na Universidade Eduardo Mondlane, que condecorou com as insígnias de Membro-Honorário da Ordem da Instrução Pública.

E aproveitou para contar: “Apareceu-me a filha do Presidente Nino Vieira veio viver para Moçambique, faz a sua formação em Moçambique e hoje é assessora de uma antiga aluna minha que é a presidente do Tribunal Constitucional. A presidente do Tribunal Constitucional moçambicana é de formação portugueses e mantém esses laços. Isto não tem preço, é um relacionamento humano que flui naturalmente.”

Cultura e educação para um “Moçambique aberto a todos”

De manhã a Defesa, ao fim do dia a Cultura, com o Presidente português a condecorar dois artistas moçambicanos: o escritor João Paulo Borges Coelho e a artista plástica Reinata Sadimba. Uma cerimónia que “vem confirmar a importância da cultura para os dois países”, salientou a ministra da Cultura, Edelvina Materula, uma oboísta com carreira internacional, também já condecorada por Marcelo Rebelo de Sousa.

A tarde deste terceiro dia de visita oficial foi dedicada à educação, com os presidentes de Portugal e de Moçambique a inaugurarem a Academia Aga Khan Maputo e, com esse gesto, a darem peso e importância às parcerias que ambos os países têm com a comunidade ismaelita.

Esta academia de Maputo — a terceira no mundo a ser formada pela Fundação Aga Khan, que escolheu Lisboa para a sua sede mundial — já está em funcionamento, ocupa 22 hectares nos arredores de Maputo e tem capacidade para 750 alunos, que ali podem estudar até ao 12º ano. Metade dos alunos recebe ajuda financeira.

“Têm de ser os melhores para aproveitarem a oportunidade que outros não têm”, disse Presidente português aos muitos alunos presentes, que exortou a contribuírem para “um Moçambique aberto a todas as religiões, aos que não têm religião, aberto a todas as opiniões”. E o próprio Marcelo deu o exemplo dessa abertura ao citar um versículo do Corão: “A todos chegam as dádivas do teu Senhor; as dádivas do teu Senhor não serão negadas a ninguém.”

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