João Gomes Cravinho assegura não ter conhecimento sobre qualquer afegão que tenham trabalhado diretamente com os militares portugueses e que tenha manifestado interesse em sair do Afeganistão que ainda esteja no país. A garantia foi deixada esta sexta-feira após a chegada do primeiro grupo de afegãos e de quatro militares portugueses a Lisboa.
“Do nosso lado não temos nenhuma pessoa dessa lista [de pessoas que trabalharam com Portugal, 116 pessoas] que esteja ainda no Afeganistão”, disse em resposta a um dos dois jornalistas a quem foram permitidas perguntas na conferência de imprensa (estavam mais presentes e não foram autorizados a fazer questões). “Não podemos garantir mas não temos informação a esse respeito. Aqueles que foram contactos pelos nossos militares, que responderam e quiseram dar seguimento aos contactos portugueses, vieram com esta equipa da nossa força nacional. Acreditamos que alguns dos que não deram seguimento será porque saíram do Afeganistão com forças de outros países, porque não trabalharam em exclusivo para forças portuguesas. Mas não temos a informação sobre nenhum caso que esteja ainda no Afeganistão e que queira sair do país.”
O Expresso noticiou o caso de duas jovens afegãs que receberam o aviso para se dirigirem ao aeroporto de Cabul na passada quinta-feira pela manhã com o intuito de serem retiradas do país. No entanto, nenhuma delas conseguiu chegar à zona onde se encontravam os militares portugueses. As duas continuam em Cabul. Além das pessoas que trabalharam com Portugal e que colaboraram com a NATO e União Europeia, o Governo disse a processar os pedidos de acolhimento dirigidos especificamente ao nosso país.
Na sua intervenção no aeroporto do Figo Maduro, Gomes Cravinho precisou também que durante a madrugada e manhã deste sábado é esperada a chegada de mais dois grupos de civis afegãos. “A expectativa é ter mais duas levas de cerca de 36 ou 38 pessoas.” Os números, esclareceu, podem variar pois há ainda pessoas em Torrejón, em Espanha, e noutros pontos da Europa que vêm para Portugal.
Gomes Cravinho deixou largos elogios aos quatro militares portugueses destacados no aeroporto de Cabul, considerando que esta é uma missão que vai “ficar para sempre nas nossas memórias”. “Foi um trabalho extremamente difícil que exigiu, além das qualidade profissionais que esperamos sempre dos nossos militares, também imaginação e criatividade na procura de soluções em situações inusitadas”, sublinhou. E continuou: “Esta força nacional destacada cumpriu em pleno tudo aquilo que lhe tinha sido pedido e que era extremamente difícil de atingir”.
A seguir usou as mesmas palavras que também o Presidente da República usou minutos depois: “Dívida de gratidão”. “Ao longo de quase 20 anos Portugal desenvolveu dívidas de gratidão em relação a afegãos que trabalharam e apoiaram as forças portuguesas, em muitos casos pondo em risco a própria vida. Esta força destacada foi a Cabul honrar essas dívidas de gratidão. O Governo tinha aberto a porta, mas não bastava abrir a porta. Era necessário que esta equipa fosse lá para trazer esses afegãos para dentro do aeroporto e ajudá-los a entrar em aviões. Missões muito fáceis de enunciar, missões extremamente difíceis de cumprir nas circunstâncias do aeroporto de Cabul nos últimos dias”, disse o ministro.
Esta sexta-feira às 21h18 chegou a Lisboa o primeiro grupo de cidadãos afegãos que trabalharam diretamente com os portugueses no Afeganistão. Voaram com os quatro militares que prestaram serviço nos últimos dias no aeroporto de Cabul.
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