O aviso foi feito há uma semana e o facto confirmado esta quinta-feira pelo Governo. Portugal não vai mesmo avançar no desconfinamento, a 28 de junho. "O país encontra-se claramente na zona vermelha da matriz de risco, pelo que não existem condições para prosseguir o plano de desconfinamento previsto", afirmou Mariana Vieira da Silva, em conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, que renovou o estado de calamidade até 11 de julho.
São vários os fatores que explicam o agravamento da situação em Lisboa, mas a "alta incidência da variante Delta" na região, associada à maior densidade e mobilidade populacional poderão justificar o número elevado de infeções na capital, que a par de Sesimbra e Albufeira recuam no desconfinamento. Há ainda 25 concelhos no laranja e 19 em alerta.
Embora reconheça que o país se encontra numa situação epidemiológica "mais grave" e "complexa, a ministra do Estado e da Presidência rejeitou o "descontrolo total" da pandemia, sublinhando que está ainda "longe das linhas vermelhas" definidas ao nível da utilização no SNS. Mariana Vieira da Silva recusou também qualquer responsabilidade política do Governo no recuo de Lisboa, Sesimbra e Albufeira. "Estamos a decidir o que está de acordo com o plano de desconfinamento que tínhamos aprovado", explicou a governante, sublinhando que se vão manter os apoios aos sectores mais afetados pelas restrições.
Apontando para o aumento de 34% das infeções por covid-19 e 30% dos internamentos, Mariana Vieira da Silva disse que não é de esperar para breve uma melhoria do quadro epidemiológico, lembrando que existe uma parte significativa da população que ainda só recebeu a primeira dose da vacina. "A expectativa é que nas próximas semanas os casos continuem a aumentar. As consequências das medidas que tomamos levam tempo, mas é muito importante que este seja um período de controlo da pandemia", observou.
A governante disse ainda ser impossível antecipar um "horizonte" para o fim das medidas, apelando à adesão de todos à vacinação contra a covid-19: "Embora todos gostássemos de ter uma data de fim desta situação, isso não é possível. A vacinação completa de todos os que têm mais de 60 anos pode ser importante, mas estamos numa luta contra o tempo entre vacinação e progressão da doença e isso faz com seja necessário pedir a todos um esforço suplementar", alertou.
Nesta altura, adiantou Mariana Vieira da Silva, existem ainda mais de 700 mil pessoas com mais de 60 anos que não têm a vacinação completa, mas a estimativa do Governo é que a cada semana se possa administrar a segunda dose da vacina a cerca de 320 mil pessoas. A prioridade é proteger a população mais vulnerável.
Questionada sobre a proibição da circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa (AML), a ministra explicou que as exceções dizem respeito a quem apresentar o certificado digital ou um teste negativo à covid-19, "laboratorial, seja um PCR ou um teste rápido", mas não um auto-teste. Relativamente à exigência de testes para eventos, Mariana Vieira da Silva revelou que o Executivo está a avaliar "uma forma de poder comparticipar os seus custos".
Confrontada sobre o inquérito aos festejos do Sporting, Mariana Vieira da Silva disse esperar que o documento esteja concluído em breve, garantindo que o Governo o irá tornar público e que será importante "para saber o que correu mal e corrigir". Já sobre as declarações do presidente da Assembleia da República – que apelou à afluência "massiva" dos adeptos portugueses a Sevilha para assistir ao jogo entre Portugal e a Bélgica, nos oitavos de final do Euro2020 –, a ministra recusou tecer qualquer comentário.
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