
Foi recebido no encontro das direitas como o líder desejado mas já avisou que não irá às diretas do PSD em janeiro. Para Passos Coelho, o seu novo ciclo, a existir, ainda não chegou
Foi recebido no encontro das direitas como o líder desejado mas já avisou que não irá às diretas do PSD em janeiro. Para Passos Coelho, o seu novo ciclo, a existir, ainda não chegou
Embora a sua presença na Aula Magna das Direitas (a conferência do MEL, Movimento Europa e Liberdade, que esta semana decorreu em Lisboa) tenha sido recebida com o clamor reservado aos grandes líderes, Pedro Passos Coelho está decidido a manter-se afastado da corrida à liderança do PSD. Pelo menos no atual ciclo político. Prova disso é a forma como vai reagindo aos que dentro e fora do partido o pressionam para avançar nas eleições internas que o PSD realizará em janeiro e onde a liderança de Rui Rio será reavaliada. Sem dizer um adeus definitivo à política, Passos mostra-se irredutível na sua indisponibilidade, por entender que é cedo para eventuais regressos.
Ao que o Expresso apurou, o ex-primeiro-ministro chegou a sinalizar isso mesmo a duas ou três pessoas que entende poderem ter a ambição de um dia disputar a presidência do PSD. E se a sua preocupação em deixar campo aberto à geração mais nova foi transmitida nalguns casos há mais de um ano, a verdade é que a sua avaliação da oportunidade para admitir regressar não mudou. Pelo contrário, Passos continua a defender que não há um contexto em que, consigo como candidato, a direita possa governar nos anos mais próximos.
Os dois dias que dedicou ao MEL confirmaram-lhe que é ele o desejado pela sua família política, mas isso não parece ter-lhe perturbado a frieza com que avalia que uma coisa é federar a direita, outra é ter condições para governar. “O PS vai ter de responder pelo seu ciclo”, e o seu regresso prematuro “daria à esquerda a escapatória para ficar a remoer o passado”, são frases que Passos costuma partilhar em privado. A primeira quer dizer duas coisas: que o ciclo de poder socialista ainda não está esgotado; e que não vale a pena querer antecipar um desfecho que só será rentável para a direita no timing certo e se esta souber acelerar o relógio, contribuindo ativamente para desgastar o costismo.
Nesta questão em particular — desgastar a ‘geringonça’ —, o desempenho de Rui Rio não lhe merece nota positiva. Passos Coelho foi cordial com Rio, que fez questão de ficar a ouvir no encontro do MEL e até disse, no final, que tinha gostado. Mas a mímica corporal não engana. Quando após meia hora a ouvir o líder do PSD finalmente o viu desferir um ataque direto e frontal ao Governo do Partido Socialista, que acusou de “não querer reformar o país”, Pedro Passos Coelho abriu num gesto largo os dois braços, como quem diz “até que enfim” ou, “sendo assim, porquê insistir em pactos?”. Muitos dos presentes na sala não terão pensado outra coisa.
Por isso, o nome do ex-primeiro-ministro é cada vez mais apontado como o único capaz de atalhar o caminho à esquerda antes que o Chega de André Ventura passe de aventura a tendência consolidada. E até há quem defenda que se Passos repetir aparições como as do MEL se arrisca a chegar a uma altura em que já não pode dizer que não. “Ele tem o carisma dos líderes míticos”, defende um ex-dirigente do partido. E os líderes míticos acabam por ficar reféns do próprio mito — “Ele arrisca-se a ter de fazer como Ulisses e pedir que o amarrem ao mastro do barco, para continuar a ouvir o canto das sereias” sem correr o risco da morte, ironiza a mesma fonte. Mas Passos tem antídotos para este risco — sair de cena e voltar à vida pacata que leva entre as aulas na Faculdade e as raríssimas aparições públicas é o seu roteiro natural.
Isso não significa que o bicho da política não continue dentro dele. “Ninguém faz o que ele fez, estar ali dois dias a ouvir, a falar com o Portas, a cumprimentar o Ventura, a ouvir o Rio, primeiro na quinta fila e no fim na primeira, se não tivesse a tentação de voltar”, afirma um senador do PSD, que alerta, aliás, para o risco de se Passos Coelho não avançar nas diretas de janeiro perder a oportunidade. Mas quem melhor o conhece chama a atenção que “ele não é um corredor para 100 metros, é um corredor para 1000 metros”, e tentar colocar-lhe prazos ou endossar-lhe a responsabilidade moral de preencher um vazio é um erro.
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