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Extrema-direita francesa dá mão a Ventura: Le Pen em Lisboa ataca Costa na imigração

Extrema-direita francesa dá mão a Ventura: Le Pen em Lisboa ataca Costa na imigração
NUNO BOTELHO

A líder da antiga Frente Nacional veio dar um empurrão ao líder do Chega a dois dias do arranque oficial da campanha para as presidenciais. Ventura disse que “é um grande orgulho recebê-la”, Le Pen disse que Portugal se deve orgulhar “da sua gloriosa história”. Mas para a história deste primeiro de dois dias da visita ficam uma Le Pen apressada e uma grave falha na organização que motivou uma debandada de jornalistas

Extrema-direita francesa dá mão a Ventura: Le Pen em Lisboa ataca Costa na imigração

Hélder Gomes

Jornalista

Extrema-direita francesa dá mão a Ventura: Le Pen em Lisboa ataca Costa na imigração

Nuno Botelho

Fotojornalista

André Ventura é “um grito que vem do coração, um sinal do céu”, declarou Marine Le Pen esta sexta-feira num hotel lisboeta. O elogio hiperbólico da presidente do Rassemblement National (RN, antiga Frente Nacional) foi correspondido: “É um dia muito feliz e importante”, a vinda de Le Pen “é particularmente simbólica para mim como líder do Chega” e “é um grande orgulho recebê-la”. Mas não havia como disfarçar o desconforto após a saída de vários jornalistas em protesto contra a falta de distanciamento numa sala acanhada para o evento e no pior dia da pandemia em Portugal, com recordes de novas infeções, casos ativos, mortos e internados.

A líder francesa agradeceu “a presença numerosa” na sala, o que só poderá ser entendido como uma nota de ironia, uma vez que restavam já poucos jornalistas. O RN e o Chega “não são clones mas parceiros, aliados”, fez questão de sublinhar a dois dias do arranque oficial da campanha presidencial em que Ventura é candidato. Mas destacou a “imensa sorte” dos portugueses em terem “um chefe político tão forte e talentoso”. O líder do Chega devolveu o elogio: “Le Pen tem sido uma lutadora em França e na Europa, é um dos grandes símbolos europeus. E acredito que muito em breve liderará um dos grandes países europeus”. Motivo pelo qual, disse, “faz todo o sentido” recebê-la nesta altura em Portugal.

Ventura vê em ambos os partidos ali representados “um projeto e ideias comuns para a Europa”. Ou seja, “uma Europa essencialmente dos europeus, de quem trabalha e paga impostos, e não daqueles que vêm para cá sem aceitarem qualquer tipo de integração”. Um projeto “contra a imigração descontrolada, a criminalidade generalizada, a destruição da matriz cristã da Europa”, acrescentou. Le Pen foi ainda mais enfática e de caminho apontou a mira ao Governo de António Costa, que defende o Pacto para a Imigração também como resposta ao problema demográfico. “Não deixem que isso aconteça. Defendam a vossa história, as vossas famílias, os vossos filhos e a própria Europa”, apelou.

Ambos descreveram o islamismo como “uma ideologia totalitária”. Le Pen: “é preciso lutar contra isso”. Ventura: “muitas vezes tentam impor pela via da força o que não conseguem pela via democrática, é preciso impedir que ganhem terreno no espaço europeu”. E numa altura em que Portugal assumiu a presidência do Conselho da União Europeia, “os patriotas não podem ignorar que o seu voto tem significado”, enfatizou Le Pen. Afinal, acrescentou ainda, o crescimento de partidos como o RN e o Chega, que fazem parte da família europeia Identidade e Democracia, é “um grande movimento histórico” a que Portugal “parecia querer esquivar-se”.

“A língua do país de origem deve aprender-se no seio da família”

“Portugal deve sentir-se orgulhoso da sua gloriosa história”, recomendou, aproveitando para elogiar a diáspora portuguesa em França. “Há um vínculo muito profundo. A comunidade soube honrar o seu país com uma atitude exemplar, civismo e espírito empreendedor”, pelo que “a sociedade francesa enriquece com esses portugueses” – sobretudo, entenda-se, os que votam e apoiam o RN. Le Pen só não parece querer enriquecer o programa das escolas francesas com o ensino do português: “a língua do país de origem deve aprender-se no seio da família”.

A uma só voz, Ventura e Le Pen ainda condenaram a invasão do Capitólio por apoiantes de Donald Trump na quarta-feira, que provocou pelo menos cinco mortos, incluindo um agente da polícia. “O Chega condena qualquer ato de violência sobre as instituições. Acreditamos na democracia pelo voto”, afirmou Ventura. “Os resultados das eleições devem ser contestados nos tribunais, nunca pela violência”, disse Le Pen. Mas o líder do Chega considerou que o Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, “pode ser um perigo para o mundo e para a Europa” porque “já deu provas de que pretende reforçar a relação com a China em vez de com a Europa” e “trazer as velhas questões raciais”. Ventura apontava assim o dedo à “esquerda muito libertária” que, diz, “não ajuda à pacificação.

NUNO BOTELHO

A questão da identidade haveria de voltar a ser abordada alguns metros abaixo junto do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade, onde os dois líderes de extrema-direita depositaram uma coroa de flores. Extrema-direita? Nada disso, garantiram. “Somos pela reconstrução da Europa, essencialmente assumidos de direita, mas que negam esta lógica socialista de que tudo o que é contra o sistema se torna imediatamente extrema-direita”, ‘corrigiu’ Ventura.

Foi sempre Le Pen a ‘comandar as tropas’: encerrou abruptamente a conferência de imprensa quando ainda havia jornalistas com as mãos levantadas para colocar questões, nas declarações ao ar livre não deu oportunidade a Ventura para também ele responder a uma pergunta que fora colocada a ambos e virou costas em direção ao monumento e, após a deposição da coroa de flores, apressou-se a entrar no carro. Apesar da pressa demonstrada, ainda tem mais dois eventos com Ventura este sábado: uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos ao final da manhã e um jantar em Sintra.

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