Não há volta a dar. Os efeitos da pandemia provocada pelo novo coronavírus vão arrastar a economia pela lama num efeito que será prolongado. É um "tsunami" e "não há bóias que nos salvem de um tsunami". É assim que António Costa vê o que é possível fazer para evitar males maiores. É preciso, para travar a onda que se agiganta a cada hora, um vento contrário muito forte, que impeça a devastação completa da economia. E esse vento só virá de uma bazuca económica a decidir na União Europeia. "Chamem-lhe Plano Marshall ou von der Leyen, não importa o nome. A Europa tem de ter um grande projeto de recuperação económica isso tem de ter", disse esta noite o primeiro-ministro numa entrevista à TVI.
O primeiro-ministro reconhece que a economia vai ser muito fragilizada depois desta pandemia. "Não há bóias que nos ajudem num tsunami. Não vale a pena criarmos a ilusão às pessoas de que vamos passar este processo sem dor. Os danos económicos vão-se prolongar", assume António Costa que ao longo da entrevista diria por várias vezes que a crise está para durar e que os efeitos se irão sentir ao longo dos próximos tempos. "Não teremos um mar de rosas", chegou a dizer.
Terá sido até por isto que se recusou a traçar um cenário para o desemprego esperado, avisando no entanto para o perigo de um desemprego em massa. "É fundamental que os empresários tenham confiança de que este não é o momento de fazerem despedimentos. Temos de fazer um esforço em conjunto para sustentar empresas, emprego e rendimento de forma ao país não afundar. O país não pode parar", avisou.
Ao nível nacional estão mais medidas ao virar da esquina, a serem conhecidas ainda esta semana. Ainda no condicional, mas com perspectivas de se concretizar, está uma possível moratória para o crédito às famílias e às empresas no que toca aos créditos à habitação e créditos para empresas de forma a "assegurar maior liquidez das famílias e empresas". Uma decisão que ainda depende do acordo da banca.
Ainda esta semana haverá novo Conselho Europeu e António Costa antecipa mais uma reunião "dura". E nessas negociações, Angela Merkel nem é o osso mais duro de roer. Questionado se já convenceu a chanceler alemã à emissão de dívida conjunta entre todos os 27 para fazer face às despesas dos estados com a pandemia, Costa chutou para canto adiantar muito sobre essa possibilidade, mas fez uma defesa da líder alemã. Merkel "não é a mais insensível dos alemães, nem a mais insensível que se senta na mesa do Conselho".
Apesar da resposta da UE ser dura e difícil de alcançar, Costa salientou os vários "impensáveis" que já aconteceram como a flexibilidade das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, com os governos a poderem furar as metas do défice, e com a bazuca do Banco Central Europeu de 750 mil milhões de euros no Quantative Easing, programa que permite a compra de dívida dos estados.
SNS não está em rutura
O cenário está a complicar-se e pelo menos até ao final de Maio estaremos ainda a combater o vírus. António Costa diz que neste momento o SNS não está em rutura e que ao contrário do que tem sido dito, não "faltou nada e não é previsível que venha a faltar o que quer que seja". O primeiro-ministro diz que há vários equipamentos em reserva e que estas estão a ser geridas. Se a situação epidemológica se mantiver na linha com as previsões, Costa acredita que o SNS não colapsará, apesar das dificuldades.
"Até agora não faltou nada e não é previsível que venha a faltar o que quer que seja. Houve um reforço de número de 1000 médicos e 1800 enfermeiros. Temos 1142 ventiladores e a margem é ainda muito significativa. E estamos a adquirir: pagámos ontem 10 milhões de dólares por 500 ventiladores da China”, disse. Além desta capacidade, chegarão mais 78 ventiladores de uma doadora da China.
Em termos de camas, o SNS "ainda tem capacidade" o que significa cerca de 2 mil. Além disso, há mais 2 mil camas de reserva nas Forças Armadas e foi acordado com o setor privado a transferência de outros doentes se for necessário. Garantia do primeiro-ministro: "Ainda não estamos a ir à reserva".
"Não vamos atingir o ponto de ruptura e é para isso que estamos a trabalhar". Diz António Costa que os cenários estão mais ou menos constantes de pico em Abril e até ao final de Maio e que pode haver a possibilidade de estarmos a alisar a curva de contágio. Se tudo correr como previsto, "nunca perderemos o controlo da situação", diz. Contudo, só para a semana poderá haver uma análise mais detalhada, depois de 15 dias do encerramento das escolas. Esta terça-feira haverá no entanto um novo estudo epidemológico feito por uma equipa de peritos que passaram a brifar com frequência o primeiro-ministro.
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