Ser ou não ser

“Na última década houve uma redução de 85% na oferta de produção de novas casas em Portugal: em cada dez vendidas, nove são usadas”

Impostos pesados, muita legislação e falta de empresas de construção civil são os problemas apontados por José Cardoso Botelho ao setor do imobiliário em Portugal. Já a tecnologia e a industrialização serão a solução para construir edifícios mais sustentáveis. Oiça aqui a conversa com o CEO da Vanguard Properties no podcast Ser ou Não Ser

José Cardoso Botelho acredita que o futuro do setor imobiliário passa pela tecnologia e industrialização. “Vamos ter de inovar na construção dos edifícios, utilizar materiais com menos impacto”, diz o CEO da Vanguard Properties, reforçando que até 2025 investirão 50 milhões de euros na Kozowood, uma unidade industrial situada em Esposende, com capacidade para construir estruturas em madeira, impulsionando assim a construção deste tipo de casas em Portugal. E desengane-se quem ainda acredita na história dos três porquinhos onde um simples sopro do lobo mau fazia sucumbir as casas que não eram construídas em tijolo. José Cardoso Botelho afiança: “Este tipo de construção que utiliza o Cross Laminated Timber (CLT) é muito robusta. Podemos construir qualquer tipo de edifício”.

Mas a construção sustentável será apenas um privilégio para os mais ricos? O CEO da Vanguard Properties diz que não. Atualmente, o custo de erguer um edifício sustentável custa mais 5% ou 6% comparativamente às construções tradicionais, no entanto, com a industrialização as margens tenderão a aproximar-se. Porém, a verdade é que não há outro caminho a seguir. Isto porque, por um lado, o tema do CO2 será contabilizado no preço dos ativos e, por outro, há falta de mão de obra no setor da construção. “Temos poucas empresas de construção civil. Uma grande parte das boas empresas desapareceu após 2008”.

Apesar de estar ao leme de uma empresa lucrativa, José Cardoso Botelho não deixa de apontar o dedo, dizendo que o setor da construção em Portugal tem muita legislação e pesados impostos. “O IVA não é dedutível e o IMI só incide sobre os terrenos residenciais, o que é um disparate. Portanto, é mais uma forma de arrecadar receita”. Lamenta também que não se invista no arrendamento habitacional, nomeadamente dando incentivos de financiamento a longo prazo às empresas de construção, como acontece com o grupo Vanguard Properties, na Suíça, por exemplo, onde gerem cerca de 52 mil fogos. Na sua opinião, se Portugal quiser crescer, o parque de habitações terá de recorrer a Fundos de Pensões, uma vez que a banca não financia este tipo de investimento e, para isso, “é preciso criar as condições de atração para este tipo de fundos que, ao contrário do que se pensa, não são especulativos”.

José Fernandes

Quanto ao aumento dos custos na construção, que no ano passado rondaram os 18% segundo o Investment Property Survey da Confidencial Imobiliário, o CEO da Vanguard Properties refere que o custo de construção efetivo de uma casa em Portugal é superior ao poder médio de compra de um português. Afirma também que não há casas a mais em Portugal, isto porque a maioria não está em condições de ser alugada ou vendida e porque não há investimento suficiente para recuperar as cidades: “Precisamos de investimento estrangeiro”.

Mário Henriques

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