A presidente da Euronext Lisbon esteve no podcast Ser ou Não Ser e realçou o papel da Bolsa de valores na transição energética, por colocar no mercado produtos financeiros com o selo de sustentabilidade. Mas Isabel Ucha responsabiliza também os investidores, porque com as suas poupanças são eles que financiam os setores e as empresas. Oiça aqui o episódio
Sonoplastia
A Euronext é a maior bolsa europeia. Está presente em 15 países, opera em sete mercados, tem cerca de 2 mil empresas cotadas e a capitalização bolsista dessas empresas é de mais de 6 triliões de euros. Isabel Ucha é uma das três mulheres no grupo que chegou a CEO. As bolsas de Paris e de Amesterdão também são lideradas por mulheres. Quanto ao tema da sustentabilidade, defende que estamos numa maratona e não num sprint. “Temos um longo caminho pela frente e as empresas precisam de muito investimento”. Em Portugal, no setor de energia, EDP, EDP Renováveis e Greenvolt levantaram nos últimos três anos 5 mil milhões de euros em capital para este tipo de investimento.
Os índices ESG, indicadores que medem a sustentabilidade de uma empresa, são um dos produtos estrela da bolsa. A Euronext disponibiliza mais de 400 índices dedicados ao tema da sustentabilidade e em cerca de 30 estão incluídas empresas portuguesas. Isabel Ucha discorda que a indústria financeira tenha salpicado uma espécie de “pó de fada ESG” em produtos financeiros que não mereciam esse rótulo, mas admite que “isso não significa que não existam casos pontuais de algum abuso do termo sustentabilidade”.
A responsável garante haver um esforço da indústria financeira em utilizar as fontes mais fidedignas e as melhores metodologias na constituição dos produtos financeiros para os investidores, reconhecendo que as novas medidas propostas pela Comissão Europeia vão facilitar a vida à gestora da bolsa que ganha novas ferramentas para lançar novos índices no mercado. Esclarece também porque, por exemplo, uma empresa do setor petrolífero pode fazer parte destes cabazes, estando num setor considerado não sustentável. “A nossa intenção mais do que excluir um setor, é incentivar as empresas a fazer a transição”.
Mas será que as empresas mais pequenas estão preparadas para estas mudanças? Isabel Ucha cita um estudo do Observatório das ODS, da Universidade Católica, dizendo que 80% das PME vê esta transição como uma oportunidade e não como um desafio, mas mais de metade admite ainda não estar preparada para a fazer. Se por um lado, é verdade que é necessário ter standards e metodologias mais transparentes, por outro, as empresas e investidores institucionais de média e pequena dimensão podem não conseguir acompanhar esta “avalanche” regulatória, muito extensa e muito exigente, além de terem custos associados.
E porque a sustentabilidade também é medida dentro de casa e sendo a Euronext uma empresa com uma enorme visibilidade “deve dar o exemplo”. Isabel Ucha explica como o grupo está a nivelar salários, aproximando quem ganha menos, de quem aufere maior rendimento. Destaca também a nova política de viagens da empresa, que era uma das maiores fontes de emissão de gases de carbono, e conta como foi feita a transição para o novo Data Centre, considerado um dos mais limpos a operar no mercado, pois só consome energia verde. A terminar, explica quais os apoios que a Euronext tem para as empresas nesta fase de transição regulatória e de comunicação ao mercado. Sejam ou não cotadas.
'Ser ou não ser' é um podcast semanal sobre o mundo da sustentabilidade, da ecologia e da responsabilidade. A cada episódio, mergulhamos em tópicos relevantes, desde práticas individuais até iniciativas globais, com convidados apaixonados por este tema. Damos voz a líderes de empresas, ativistas, empreendedores e especialistas, para partilharem experiências e soluções inovadoras para um futuro mais sustentável. 'Ser ou Não Ser' é um podcast do Expresso SER, com moderação da jornalista Teresa Cotrim e o convidado residente Frederico Fezas Vital, professor e consultor na área da inovação social, impacto e empreendedorismo. A coordenação está a cargo de Pedro Sousa Carvalho.
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