Ser ou não ser

“Não acredito em estratégias de sustentabilidade. Sustentabilidade é 'a' estratégia, senão andamos a brincar ao greenwashing”

Nuno Moreira da Cruz defende uma ‘visão holística’ da sustentabilidade a nível empresarial e entende que esta “não pode ser vista como um custo, mas sim como um investimento em algo que que garanta um futuro”. Para o professor e diretor executivo do Centro de Negócios e Liderança da Universidade Católica de Lisboa, se um presidente de uma empresa disser que investe em sustentabilidade porque é apaixonado pelo planeta e é contra as desigualdades, ninguém acreditará nele. Oiça aqui a entrevista no novo podcast do Expresso, Ser ou não ser

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"Nos últimos dez anos, as empresas dedicaram-se a dizer: Onde fico bem na fotografia? Como está a redução de CO2, está bem? A igualdade de género, também? Era uma espécie de bar aberto, cada uma escolhia a métrica que melhor lhe servia. Eram todas perfeitas”. A ordem do bar aberto vai ser posta, afirma Nuno Moreira da Cruz: “com as novas regras da Comissão Europeia ganhamos uma dimensão de filme: podem-se comparar os últimos três, quatro anos. Podemos ver se a empresa está a melhorar ou a piorar. Os investidores precisam disso”.

O professor da Universidade Católica acredita que a ‘guerra’ do mundo empresarial passa pelo talento: “Malta para trabalhar a qualquer preço e em qualquer lado haverá sempre, mas o talento é a grande guerra do mundo empresarial, esse escolherá a empresa onde fará carreira”. O docente cita ainda um estudo europeu, dizendo que os maiores talentos das universidades estão disponíveis a perder 15% do salário de entrada para empresas que os convençam que estão a resolver pelo menos um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

D.R.

Fala também das oportunidades para as PME por haver todo um caminho a explorar: “As que conseguirem criar vantagens competitivas vão fazer parte da cadeia de abastecimento das grandes”.

Nuno Moreira da Cruz confessa ter mudado radicalmente a forma de ver o negócio após ler a carta enviada aos CEO, em 2019, por Larry Fink, o magnata da BlackRock, onde defendia que a empresa existe além do lucro. O professor cita-o novamente como uma espécie de âncora do novo paradigma: “Eu não sou ambientalista. Sou capitalista e é por ser capitalista que tenho de me preocupar com o ambiente”.

Durante a conversa salienta ainda os problemas sociais: “A desigualdade social entre um rei e um escravo há 2000 anos era menor do que hoje ao nível de qualquer cidade com mais de 3 milhões de habitantes”, mas atualmente há um agravamento porque o escravo antes não sabia o que o rei andava a comer, vestir e onde passava as férias. “Hoje sabemos tudo de todos. É o tema das tensões sociais”. E termina: “o planeta vai sempre resistir. Há quem diga que sobreviverão dois mil milhões de pessoas, portanto há seis mil milhões que correm o risco de desaparecer”.

'Ser ou não ser' é um podcast semanal sobre o mundo da sustentabilidade, da ecologia e da responsabilidade. A cada episódio, mergulhamos em tópicos relevantes, desde práticas individuais até iniciativas globais, com convidados apaixonados por este tema. Damos voz a líderes de empresas, ativistas, empreendedores e especialistas, para partilharem experiências e soluções inovadoras para um futuro mais sustentável. 'Ser ou Não Ser' é um podcast do Expresso SER, com moderação da jornalista Teresa Cotrim e o convidado residente Frederico Fezas Vital, professor e consultor na área da inovação social, impacto e empreendedorismo. A coordenação está a cargo de Pedro Sousa Carvalho.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jmartins@expresso.impresa.pt

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