Que voz é esta?

Aos 45 anos, David descobriu que tem autismo: “Se pareço esquisito ou complicado, é porque o meu cérebro funciona de maneira diferente”

Foi há menos de um mês que David Pinheiro, 45 anos, soube que tem perturbação do espectro do autismo. Recebeu o diagnóstico com alívio. O autismo é habitualmente diagnosticado na infância, mas muitas pessoas só descobrem que têm esta condição do neurodesenvolvimento quando são adultas. Outras nem sequer chegam a descobrir, explica Miguel Castelo-Branco, médico e neurocientista. Oiça aqui o mais recente episódio do podcast “Que Voz é Esta?”

Aos 45 anos, David descobriu que tem autismo: “Se pareço esquisito ou complicado, é porque o meu cérebro funciona de maneira diferente”

Helena Bento

Jornalista

Aos 45 anos, David descobriu que tem autismo: “Se pareço esquisito ou complicado, é porque o meu cérebro funciona de maneira diferente”

João Martins

Sonoplastia

Há menos de um mês, depois de ter realizado vários exames médicos, David Pinheiro, de 45 anos, descobriu que tem autismo. Tinha ido a uma consulta de outra especialidade e a médica que o atendeu ter-se-á apercebido de alguns sinais compatíveis com aquele diagnóstico, como a dificuldade em manter o contacto ocular. Sugeriu-lhe que fizesse exames específicos e David seguiu a recomendação. Os resultados confirmaram as suspeitas.

"Senti quase alegria ao descobrir que tenho autismo. De um dia para o outro, percebo que, se pareço esquisito, ou sou complicado e conflituoso, é porque o meu cérebro funciona de uma maneira um bocadinho diferente”, conta David Pinheiro em entrevista ao podcast “Que Voz é Esta?” a partir de Barcelona, onde vive desde 2004. É formado em Filologia Românica; trabalhou vários anos como administrativo, depois tradutor e neste momento está mais dedicado à área do marketing digital.

Por várias razões, o diagnóstico de autismo nem sempre é feito na infância, fase em que habitualmente se identifica esta condição do neurodesenvolvimento, mas sim na idade adulta. Um diagnóstico tardio significa que a pessoa pode já ter passado por períodos de grande sofrimento psicológico devido a dificuldades na escola, nas interações sociais, na transição para a vida adulta ou no mundo do trabalho, que ainda é altamente penalizador para quem tem autismo.


Miguel Castelo-Branco dedica-se há vários anos à investigação na área do autismo, tendo vencido, em 2022, o Prémio Bial de Medicina Clínica
José Fernandes

Embora não existam exames de imagem ou biomarcadores que revelem a presença desta condição, "é necessário melhorar os meios de diagnóstico" atualmente existentes, defende Miguel Castelo-Branco, médico e neurocientista na Universidade de Coimbra, onde coordena o Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional.

“Um diagnóstico atempado permite realizar intervenções para melhorar as capacidades cognitivas e garantir a autonomia da pessoa, bem como desenvolver estratégias de adaptação”, defende o especialista, que se dedica há vários anos à investigação na área do autismo. Em 2022, venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica, com o trabalho “Os Desafios da Neurodiversidade: Um Percurso na Área da Medicina Personalizada e de Investigação no Autismo”.

Neste que é o mais recente episódio do podcast do Expresso dedicado à saúde mental, procurámos saber quão frequentes são os diagnósticos de autismo nos adultos, como é viver anos e anos com dificuldades nas interações sociais e padrões de comportamento repetitivos sem se perceber porquê, e quais as implicações destes diagnósticos tardios para o acompanhamento destas pessoas. As respostas terapêuticas que estão efetivamente disponíveis em Portugal foram outro dos temas abordados na conversa.


José Fernandes
Tiago Pereira Santos e João Carlos Santos

“Que voz é esta?” é o nome do podcast do Expresso dedicado à saúde mental. Todas as semanas, as jornalistas Joana Pereira Bastos e Helena Bento dão voz a quem vive com ansiedade, depressão, fobia ou outros problemas de saúde mental, ouvindo igualmente os mais reputados especialistas nestas áreas. Sem estigma nem rodeios, fala-se de doenças e sintomas, tratamentos e terapias, mas também de prevenção e das melhores estratégias para promover o bem-estar psicológico. O podcast conta com o apoio científico de José Miguel Caldas de Almeida, psiquiatra e ex-coordenador nacional para a saúde mental.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt

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