Geração 80

Pedro Delgado Alves: “A melhor vacina contra o populismo é a transparência e as declarações de património de titulares de cargos políticos”

Cresceu na Buraca, fez a primária em Alfragide e depois seguiu para a Escola Alemã. Mais nerd do que atleta, passou a infância a ler e a coleccionar moedas com o avô. Professor de Direito Público há 20 anos, Pedro Delgado Alves é socialista e comentador da SIC Notícias. Ouça aqui a conversa com Francisco Pedro Balsemão no Geração 80

Pedro Delgado Alves nasceu em Lisboa em 1980. Aluno brilhante, que mais tarde se tornou docente universitário, foi a partir de 2006 que concretizou o chamamento para a política, no PS, tendo exercido desde então diversos cargos de liderança dentro do aparelho partidário, a nível autárquico e como deputado.

É um dos últimos resistentes do grupo de jovens turcos do Partido Socialista e é comentador da SIC Notícias.

Cresceu na Buraca (Amadora), fez a primária em Alfragide e depois seguiu para a Escola Alemã. “Não tinha muita autonomia em miúdo. Eu era mais Legos e livros do que propriamente bicicleta e rua, não era de grandes atividades ao ar livre, era mais caseiro. Mais nerd do que atlético”, confessa. Nos anos 80, Pedro Delgado Alves lia os clássicos portugueses ‘Uma aventura’ e ‘Era uma vez’. Mais tarde, já secretário geral da Juventude Socialista cruzou-se com Isabel Alçada, ministra da Educação.


Nuno Fox

“Tive a felicidade de morar sempre perto dos meus avós, entre a Buraca e o Bairro de Santa Cruz em Benfica, nos anos 80 e 90”, diz. Numa altura em que ser de um partido tinha tanta força como ser de um clube, o socialista lembra a sua memória política mais antiga: "O primeiro facto político de que me lembro é a eleição das Presidenciais de 1986, um tempo em que as famílias à esquerda estavam divididas. Lá por casa o meu pai era da campanha do Soares e o meu tio na campanha do Zenha. Lembro-me do meu pai chegar a casa e dizer que o Soares ia à segunda volta”.

Entrou em campo com a equipa benfiquista em 1989, de mão dada com um jogador, e hoje tem lugar cativo na Luz embora “pouco tempo para lá ir”. Professor universitário há 20 anos, diz que a vida política tem vindo a dificultar a investigação. “A vítima tem sido a tese”, confessa. “Gosto muito de dar aulas de Direito Público. Direito e atividade política são complementares, alimentam-se um ao outro.”

Nuno Fox

Pedro Delgado Alves já teve alunos que nasceram depois da queda do Muro de Berlim; a colheita dos que nasceram depois do fim da União Soviética; os alunos que nasceram depois do 11 de Setembro; “e já estou na fase dos alunos que nasceram depois da final do Euro 2004, o que é muito agressivo psicologicamente” (risos). Onde vê alterações é nas ferramentas digitais, telemóveis e redes sociais, “que são hiper absorventes e que mudam o paradigma de relacionamento interpessoal”.

O socialista e comentador político da SIC Notícias trouxe para este episódio uma moeda de 25 escudos, de 1980, o ano em que nasceu. Coleccionador de moedas, ganhou esse hábito com o avô, também coleccionador. Aos domingos ia sempre aos mercados de coleccionismo nos Restauradores. “Era um hábito regular ir às moedas. Esta moeda de 1980 é bastante interessante, porque é a moeda produzida em democracia com a nova cara da República”.

Foi deputado e presidente de Junta da Freguesia em simultâneo, função que gostou muito de ter, mas que não quer repetir. “Apanhei a pandemia e foi bastante desgastante”, confessa. “É um capítulo que encerrei”.

Aos 43 anos e pai de uma menina com dois anos, Pedro Delgado Alves não está preocupado com o declínio da qualidade dos políticos em funções, no sentido em que “a atividade política e o político sempre tiveram má reputação desde desde a Antiguidade clássica, desde que há espaço público são alvo de crítica”.

O que acha preocupante é “haver uma percepção pública mais generalizada do que há 10 anos ou do que há 20 ou 30 anos de que a atividade política está associada à procura de satisfação de interesses pessoais e não do serviço à causa pública”. Essa ideia constrói-se na percepção das pessoas e é “extraordinariamente negativa”.

Outro problema que o preocupa é que “a necessária transparência que está associada ao exercício de funções públicas, o sacrifício que é pedido para o exercício de funções, pode desmotivar e pode não mobilizar os melhores quadros”. “A ideia de que ser titular de um cargo político é algo negativo é bastante penalizador reputacionalmente”.

Nuno Fox

Pedro Delgado Alves é o terceiro convidado do Geração 80. Uma conversa sobre memórias de infância, tradições familiares, a carreira docente e convicções políticas. Oiça aqui a conversa com Francisco Pedro Balsemão.


Livres e sonhadores, os anos 80 em Portugal foram marcados pela consolidação da democracia e uma abertura ao mundo impulsionada pela adesão à CEE. Foram anos de grande criatividade, cujo impacto ainda hoje perdura. Apesar dos bigodes, dos chumaços e das permanentes, os anos 80 deram ao mundo a melhor colheita de sempre? Neste podcast, damos voz a uma série de portugueses nascidos nessa década brilhante, num regresso ao futuro guiado por Francisco Pedro Balsemão, nascido em 1980.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jmartins@expresso.impresa.pt

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