Aos 12 anos, Joana Brás vivia apavorada com medo que algo de mau acontecesse aos pais ou à irmã. Não havia nenhuma razão para isso. Tudo estava bem, eram saudáveis e a vida corria sem sobressaltos, mas o pensamento obsessivo em torno da morte invadia-a, sem que conseguisse tirá-lo da cabeça. Acreditava que a única forma de aliviar a ansiedade e evitar que o pior se concretizasse era desfazer aquele pensamento. E, para isso, tinha de repetir o que quer que estivesse a fazer no momento em que a ideia a assaltara.
“Senti que a doença chegou muito rápido, porque eu comecei a ter alguns comportamentos repetitivos e depois comecei a repetir tudo. Comecei por repetir acender e apagar luzes, abrir e fechar portas ou ver-me ao espelho numa determinada posição para, de repente, fazer repetições com todos os comportamentos, com escrever palavras, com respirações, com piscar os olhos, com tudo”, conta Joana Brás, hoje com 27 anos, no novo episódio do podcast do Expresso dedicado à saúde mental.
Com o tempo, os rituais tornaram-se cada vez mais longos. Não bastava repetir uma vez, mas duas, dez, 20, 30. Até praticamente não restar tempo ou espaço na sua vida para mais nada. Na escola, os colegas achavam que era “esquisita” e alguns afastavam-se dela. Noutros casos, foi ela própria que se isolou para que não estivessem sempre a questioná-la sobre a razão daqueles comportamentos. Até porque não saberia o que responder. Tinha “consciência da irracionalidade”, mas não conseguia parar.
“Eles vão achar que eu sou maluca, porque eu própria acho que sou. Acho que estou a enlouquecer”, pensava, com cada vez maior angústia.
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