A “guerra esquecida” do Sudão e a importância da sociedade civil para travar “crescendo de atrocidades”
O conflito no Médio Oriente e a guerra na Ucrânia afastaram dos radares mediáticos um conflito que já leva mais de um ano. Isto apesar de ser “uma tragédia humanitária” e estar a provocar a pior vaga de deslocações e uma das piores crises de fome do planeta. Oiça aqui o podcast O Mundo a Seus Pés
A guerra do Sudão já deslocou 8,5 milhões de pessoas, matou cerca de 15 mil civis e colocou 18 milhões à beira da fome. Ainda segundo as Nações Unidas, outros 25 milhões dependem da ajuda humanitária.
Com os olhos do mundo voltados para a guerra em Gaza, não é só o conflito na Ucrânia a ser secundarizado: a guerra no Sudão raramente surge nos noticiários. E, no entanto, de lá chegam relatos de ataques indiscriminados em zonas densamente povoadas, alguns com motivações étnicas, uma grande incidência de violência sexual, com mulheres e raparigas a serem violadas à frente de familiares, e milhares de casas, escolas, hospitais e outras infraestruturas civis essenciais destruídas. Acrescem os desvios da ajuda humanitária pelas partes em conflito e o recrutamento de civis para as fileiras de ambos os lados.
A guerra eclodiu na capital, Cartum, a 15 de abril de 2023, entre as Forças Armadas Sudanesas, chefiadas pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido, formadas por paramilitares liderados pelo também general Mohamed Hamdan Dagalo.
Por ocasião do primeiro aniversário do conflito, assinalado há uma semana, o secretário-geral da ONU sublinhou que, por mais preocupantes que sejam os desenvolvimentos no Médio Oriente, “outras emergências dramáticas de vida ou morte estão a ser empurradas para a sombra”. Para António Guterres, “o mundo está a esquecer-se do povo do Sudão”.
Alexandra Magnólia Dias, professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, alerta que “as iniciativas para a mediação para a paz têm estado congeladas e reféns das lideranças militares”.
E destaca o esforço de elementos da sociedade civil em fazer chegar a ajuda humanitária a quem dela desesperadamente necessita face à “falta de vontade política dos beligerantes” com vista a um entendimento.
Este episódio foi conduzido pelo jornalista Hélder Gomes e contou com a sonoplastia de João Martins.