O Mundo a Seus Pés

Memória, culpa, patriotismo: dois ativistas relembram os anos passados em regimes que fazem da História uma arma de propaganda

Pavel e Katerina já não vivem onde nasceram: ele, na Rússia; ela na Bielorrússia. Agora estão em Portugal, ambos têm associações que lutam, de longe, por mais liberdade nos seus respectivos países. Mas o contacto com família e amigos que ainda lá vivem mostra-lhes que a máquina de propaganda que ajudou a fazer nascer e sustenta ainda todo o regime de Vladimir Putin, e por contágio o de Alexander Lukashenko, continua funcional. Uma conversa sobre educação patriótica, culpa, controlo e narrativas impostas a várias gerações

O dia 9 de maio é o dia em que a Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas comemoram a vitória do exército vermelho sobre o exército nazi, em 1945. Na Europa, a vitória aliada assinala-se um dia antes, a 8 de maio, por causa da diferença horária na altura da capitulação da Alemanha.

Apesar de ter reativado muitos dos principais símbolos nacionalistas russos durante os seus já mais de 20 anos à frente dos destinos do país, as paradas militares para demonstrar poder e estatuto de superpotência não foram inventadas por Vladimir Putin.

A vitória do exército vermelho sobre o exército nazi de Adolf Hitler é o expoente máximo da história recente da Rússia e, pelo menos desde Brezhnev, que o dia tem vindo a ser assinalado com crescente importância. Porém esse simbolismo cada vez mais não o exigiu o povo, foram os líderes soviéticos, e agora Putin, que transformaram um dia de luto num dia de exaltação patriótica.

A invasão da Ucrânia em 2022 obrigou o Kremlin a reduzir o espectáculo nesse ano, e agora, neste último 9 de maio, público presente na Praça Vermelha, em Moscovo, apenas teve direito ao desfile de um único tanque, o mítico T-34, uma peça essencial do arsenal soviético na 2º Guerra Mundial.

Os sacrifícios do povo e dos feitos heróicos dos soldados soviéticos são ainda hoje os temas preferidos da propaganda russa. Décadas depois do fim do conflito, e mesmo já depois da desagregação da União Soviética, essas memórias ainda são uma arma de controlo.

Para falarmos deste tema, o Mundo a Seus Pés convidou para esta edição Pavel Elizarov, que nasceu na Rússia, é consultor informático, presidente da associação Parus e vive desde 2013 em Portugal. E Katerina Drozhza, da Bielorrússia, que trabalha no departamento de comunicação de um empresa de tecnologias da informação e é fundadora da associação Pradmova. Está em Portugal desde 2015.

A edição técnica deste episódio foi de João Luís Amorim.

O Mundo a Seus Pés vai para o ar todas as semanas à segunda-feira e é feito de forma rotativa por quatro membros da secção de Internacional do Expresso: Cristina Peres, Pedro Cordeiro (editor), Manuela Goucha Soares e Ana França.



Tiago Pereira Santos

Podcast da secção de internacional do Expresso assinado por Cristina Peres, Pedro Cordeiro, Manuela Goucha Soares e Ana França. Episódios semanais sobre assuntos que dominam a atualidade mundial, com jornalistas, correspondentes e outros convidados. Oiça aqui outros episódios:

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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