O Futuro do Futuro

“As startups portuguesas pagam salários de 1700 euros por mês aos colaboradores. É 37% acima do vencimento médio nacional”

António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, antevê um ano de quebra na captação de investimento na área das startups, mas está convicto de que o apelo das empresas de nova geração continua válido muito por causa dos salários praticados. Em entrevista ao podcast Futuro do Futuro, avança com números que levam a crer que os próximos meses poderão ser decisivos para descobrir que negócios sobrevivem à quebra de investimento. Oiça aqui a entrevista

António Dias Martins é diretor-executivo da Startup Portugal desde 2021
tiago miranda

António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, antevê um ano de quebra na captação de investimento em 2023, mas está convicto de que o apelo das startups continua válido para quem quer começar uma nova carreira. “As startups em Portugal pagam cerca de 1.700 euros por mês de vencimentos médios aos seus colaboradores. Cerca de 37% acima do salário médio nacional”. Para o gestor do programa governamental de apoio aos negócios de nova geração, a questão dos salários “não é um problema de Portugal, é um problema europeu!”.

António Dias Martins em entrevista para o podcast Futuro do Futuro durante a Web Summit
Salomé Rita

Quem ingressa no mercado de trabalho até pode tirar partido de alguns benefícios financeiros, mas para quem lança o negócio o panorama revela um dado menos animador. “Em 2023 estamos a assistir a uma quebra de mais de 50% do investimento de venture capital (capital de risco) em startups. Ainda não fechámos o ano, portanto vamos apurar isto em janeiro de 2024, mas até à data nós já conseguimos ter a certeza de que será uma queda superior a 50% quando comparada com o ano anterior”, responde o gestor numa entrevista ao podcast Futuro do Futuro, realizada durante a Web Summit.

Ainda não se conhecem os efeitos práticos, mas a quebra de investimento confirma que muitas das mais de 4 mil startups portuguesas têm de aprender com a lógica da montanha russa. António Dias Martins descreve essa lógica com a ajuda de uma fotografia, que trouxe a título de desafio para o podcast Futuro do Futuro, para ilustrar o dia-a-dia de empresas que vivem da expectativa gerada pelo desenvolvimento de produtos e serviços inovadores.

A vida de uma startup assemelha-se a uma viagem numa montanha russa, sublinha António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal

Perante o cenário de incerteza, quem escapa às taxas de insucesso que afetam 16 empresas por cada 20 startups poderá sentir-se bem mais tentado a procurar negócio nos Estados Unidos quando chegar a hora de fazer crescer o negócio rumo à maturidade.

É devido à escassez de capital que muitas scale-ups, que suplantam a categoria de startups quando já têm faturações acima de 50 milhões de euros e mais de 250 profissionais, se sentem tentados a migrar para os EUA, considera António Dias Martins. “Estas scale-ups de grande potencial não se aguentam na Europa. Porquê? Porque os principais financiadores da atividade capital de risco internacionalmente chamam-se fundos de pensões”.

O gestor relaciona esta migração com o facto de os principais financiadores de capital de risco "serem fundos de pensões”, que por sua vez gozam maior liberdade de investimento nos EUA que na Europa. “Isto não é um problema de Portugal, isto é um problema europeu!” sublinha o gestor da Startup Portugal, numa alusão à regulação que obriga os fundos de pensões europeus a declarar, “à partida, quando investem, uma perda de 50% do valor que estão a investir”.

Apesar dos múltiplos desafios que se perfilam ao empreendedorismo nacional, António Dias Martins não deixa de apelar à ousadia num segundo desafio do podcast Futuro do Futuro. E por isso trouxe para escuta um videoclipe dos Rolling Stones, com o tema “Start Me Up”.

Os números mais recentes apontam para mais de 4000 startups, que correspondem a cerca de 1% do PIB (cerca de 2,5 mil milhões de euros). António Dias Martins reitera a importância da recém-aprovada legislação nacional das startups, mas não se coíbe de repetir alguns reparos que já havia deixado antes sobre os regimes fiscais aplicados à venda de participações de scale-ups e à mudança de residência dos empresários.

O diretor da Startup Portugal reconhece que a vida de diretor executivo que pretende criar uma empresa inovadora pode ser “duríssima”, mas sublinha que o desafio faz parte do empreendedorismo de nova geração.

“Muitos unicórnios, as tais empresas fantásticas que valem mais de mil milhões de dólares, invariavelmente, ouviram muitas negas nas primeiras abordagens que fizeram aos seus investidores”, conclui.

Tiago Pereira Santos

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

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