Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa: "Oferecer SPA a quem faz contas a partir do dia 15 de cada mês, perde toda a relevância"
Salário ou benefícios, o que faz um trabalhador mais feliz? Convidámos Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, e mentor do primeiro Departamento da Felicidade criado numa empresa em Portugal, a vir a estúdio responder a esta questão. É de salário - o real e o emocional - e de felicidade que falamos no 16º episódio do podcast “O CEO é o limite”.
Não existem fórmulas mágicas e a mesma receita não serve a todos os trabalhadores. Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, sabe disso e desde 2017, altura em que criou no grupo bracarense de sistemas de vigilância o primeiro departamento da felicidade do país, tem testado várias opções. Se há 66 anos, atura em que foi fundada a Bernardo da Costa, o seu avô levava os trabalhadores numa carrinha às praias mais próximas, durante o fim de semana, Ricardo já os levou num voo charter a Punta Cana de férias. Também já trocou essa viagem por um salário adicional aos trabalhadores, já ofereceu dias adicionais de férias, idas ao SPA, assegura serviço de refeições e fruta à disposição na empresa, mas garante que na lista de preferências dos trabalhadores pouca coisa supera a “alegria” que gera o serviço de engomadoria. As empresas, diz, “são as suas pessoas” e “cuidar delas é garantir que cuidarão da empresa como sua”. Mas de uma coisa está certo: ”isto só faz sentido e só é relevante quando o salário atinge um patamar digno".
Ricardo Costa chegou a ser reconhecido como um dos melhores gestores com menos de 40 anos em Portugal pela sua visão disruptiva da liderança. O foco nas suas pessoas e o argumento de que “passamos a maior parte da nossa vida, enquanto estamos acordados, a trabalhar e não faz sentido que essa parte da nossa vida seja infeliz”, valeu-lhe a admiração dos trabalhadores. Mas foi apelidado de “louco” e “lamechas” pelos seus pares, quando decidiu criar, em 2017, o departamento da Felicidade no Grupo Bernardo da Costa.
Na prática, este departamento, que hoje funciona de forma autónoma à direção de Recursos Humanos, dedica-se a encontrar soluções que possam ajudar os trabalhadores do grupo na conciliação da sua vida profissional e familiar. O que pode passar por um serviço de refeições prontas, regime flexível de trabalho, serviços de lavandaria ou engomadoria, entre muitos outros benefícios decididos de forma quase individualizada para cada trabalhador e de acordo com a realidade pessoal. Porque, diz, a mesma fórmula não serve a todos.
Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, no podcast O CEO é o Limite
NUNO FOX
Ricardo, não consegue quantificar quanto a Bernardo da Costa fatura a mais por ser uma empresa que procura facilitar e tornar mais feliz a vida dos seus trabalhadores. Mas diz não ter qualquer dúvida de que “a felicidade é lucrativa” e que “as pessoas devolvem à empresa, em dedicação, aquilo que dela recebem”. Mais, nos momentos de crise - e a Bernardo da Costa viveu vários aos longo das quase sete décadas em que está no mercado - “foi a dedicação das nossas pessoas que nos tornou resilientes e nos permitiu sair das crises com uma posição reforçada”, nota.
O CEO, que é presidente da Associação Empresarial do Minho, encara a gestão pela felicidade como uma aposta estratégica das organizações, que não é eficaz se for “a única aposta estratégica da empresa” para com os seus trabalhadores. “Se existir uma solução que tenha um impacto positivo para a vida do trabalhador, a empresa tem de considerar essa opção, se ela for viável”, defende. A isto chama-se salário emocional.
Mas deixa o aviso: “o que quer um departamento da felicidade possa dar às pessoas, só é importante quando o salário real atinge um patamar digno”. Ricardo Costa é defensor de que “aumentar o rendimento líquido dos trabalhadores em Portugal deve ser um desígnio nacional”. Até porque, nenhum benefício que se ofereça a um trabalhador que, todos os meses, a partir do meio do mês tem de fazer contas à vida, o motiva ou o torna mais feliz.
Cátia Mateus podcast O CEO É o limite
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer.
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