Liberdade para Pensar

1994: nasceu a Noite da Má Língua (com a "dádiva" do cavaquismo)

Júlia Pinheiro, Rui Zink, Manuel Serrão e Rita Blanco voltam a 1994 e à estreia da Noite da Má Língua. A política ainda é o que era? Oiça o podcast Liberdade para Pensar, com Ângela Silva

1994: nasceu a Noite da Má Língua (com a "dádiva" do cavaquismo)

Ângela Silva

Jornalista

1994: nasceu a Noite da Má Língua (com a "dádiva" do cavaquismo)

João Martins

Coordenador de Podcasts

José Fernandes
1994 foi um ano incrível. O cavaquismo em agonia, Mário Soares na rua a ajudar à festa, Lisboa bloqueada por um buzinão na ponte 25 de abril, uma geração à rasca com os rabos de fora contra a ministra da Educação, e Cavaco Silva a lançar um tabu na capa do Expresso - talvez abandonasse a liderança do PSD. A década do homem providencial chegava ao fim, n a televisão como no país os anos eram de euforia e na SIC nascia a Noite da Má Língua, um inteligente e insubordinado programa de humor, agora vivinho em podcast.
Júlia Pinheiro, Manuel Serrão, Rita Blanco e Rui Zink vieram ao Liberdade para Pensar reviver "a dádiva" que foi o cavaquismo - "era muito material", "muita chicha" - mas dispostos a abocanhar o que aí está. "Cavaco em 94 subiu as portagens, porque não havia IUC"; Marques Mendes "está à altura de ser candidato presidencial"; o Almirante "é um tótó glorificado"; Rita Blanco sente-se "a 1ª dama de Marcelo" (por se chamar Rita); os programas de humor passaram a vergar-se à "catalogação", "até fazem vozinhas", ao contrário da Má Língua onde nunca se sabe se é a sério ou a brincar; e os jornalistas "têm um cordão umbilical com Ventura" e "não aguentam uma piada". Uf! Eles são "furiosamente livres".


José Fernandes
Mas no ano de 94, enquanto passar a ponte sobre o Tejo subiu de 100 para 150 escudos, o Expresso remodelou-se, emagreceu a Revista e criou dois cadernos novos, o Vidas e o Privado. Emidio Rangel convidou Marcelo Rebelo de Sousa para um minuto de análise politica após o jornal da noite da SIC. E a TVI procurava um parceiro forte e o Expresso escrevia que a CNN era uma hipótese. Demorou ...
Lisboa foi capital europeia da Cultura. Cavaco e Soares, após um ano em guerra, caiam a pique nas sondagens. E Sampaio confessava ao Expresso que seria "muito estimulante defrontar Cavaco nas presidenciais" seguintes. Ele percebeu que podia ganhar.

Lá fora, houve um genocídio horrendo no Ruanda. Arafat regressou triunfalmente a Gaza, com apelos à unidade entre todos os palestinianos. E Nelson Mandela foi eleito Presidente da África do Sul, após 27 anos na prisão.
José Fernandes
Na música, Pedro Abrunhosa lançava o album Viagens, que pôs o país a cantar "Não posso Mais". E no Dramático de Cascais, houve um concerto memorável dos Nirvana, dois meses antes do líder da banda, Kurt Cobain, se suicidar.

Nas capas do Expresso, houve títulos e notícias que davam programas de humor. Costa Freire, braço direito de Leonor Beleza na Saúde, disse ao jornal após demitir-se que "preferia ir para a estiva" do que aceitar ajudas de Cavaco para arranjar emprego. Santana Lopes prometeu abandonar a política em 1995 (foi há 28 anos). E o Procurador Geral da República, Cunha Rodrigues, descobriu um microfone ilegal escondido no soalho do seu gabinete. A Má Língua era a sério e a brincar.
José Fernandes
Mário Henriques

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate