2004: a mal afamada 'bomba atómica' saiu do armário há 20 anos
Pedro Santana Lopes e Eduardo Ferro Rodrigues nunca se tinham sentado à mesa a falar de política desde que a posse do primeiro, como primeiro-ministro, levou à demissão do segundo da liderança do PS, mas aceitaram vir ao podcast Liberdade para Pensar, com Ângela Silva
Divertiram-se a revisitar o ano louco de 2004, quando Durão Barroso trocou Lisboa por Bruxelas, Jorge Sampaio levou Santana ao poder sem eleições, Ferro bateu com a porta e Sampaio acabaria a dissolver a maioria absoluta do PSD cinco meses depois de lhe ter dado posse. Um e outro aproveitaram para deixar a conversa em pratos limpos.
"A minha demissão não foi por ser Santana Lopes quem ia suceder a Durão Barroso, aconteceria com qualquer pessoa do PSD, porque o que eu não admitia era que não houvesse eleições", esclarece Ferro Rodrigues. Santana reconhece que "Se Ferro não se tem demitido, ganharia as eleições ao PSD". Em vez de José Sócrates, entenda-se. Ferro não tem dúvidas de que "havia uma ala do PS que conspirava contra mim" e que ajudou à festa, a que se somaram as "calúnias" que envolveram o seu nome no processo Casa Pia. E Santana conta como Sampaio acabava as reuniões de quinta-feira consigo em Belém a pedir-lhe "que ficasse mais cinco minutos no fim para falarmos do Sporting", sem conseguir disfarçar que o via como um primeiro-ministro com a cabeça a prémio.
Por falar em 'bomba atómica' - a mais poderosa arma dos Presidentes da República - a conversa facilmente deslizou para Marcelo Rebelo de Sousa. A quem Ferro Rodrigues, que com ele firmou uma amizade improvável, deixa um conselho: "Não vejo razões para dissoluções. O que as sondagens dizem é que pode haver dissolução, mas da direção do PSD". Santana Lopes é mais cauteloso: "Penso que a situação internacional aconselha que a legislatura se cumpra, mas não é um dogma. Ninguém pode saber. Não excluo nada. Nenhum (Marcelo ou Costa) perdoará uma escorregadela ao outro".
Em 2004, mais de 80% das manchetes do Expresso são de política pura e dura mas o ano também ficou marcado pelo Euro de futebol que Portugal não ganhou por uma unha negra. Perdemos na final frente à Grécia. Mas ficou a química do brasileiro Scolari, que enxameou as janelas do país com bandeiras nacionais.
O PCP mudou de líder - Jerónimo de Sousa substituiu Carlos Carvalhas. Leonor Beleza foi escolhida para presidir à Fundação Champalimaud. Começou o processo Apito Dourado, com acusações de corrupção a Valentim Loureiro, ao Boavista e ao FCP. Mas o FCP ganhou a liga dos Campeões.