Histórias de Lisboa

Já ouviu falar no Mocambo, primeiro bairro africano de Lisboa, o único que se conhece na Europa e o mais antigo do mundo fora de África?

No terceiro episódio de Histórias de Lisboa, Miguel Franco de Andrade conversa com a investigadora e especialista em História de África, Isabel de Castro Henriques, falam sobre o início da presença africana em Lisboa e descortinam a história por detrás do painel de azulejos que compõem a imagem e capa deste podcast. Oiça aqui a entrevista

Já ouviu falar no Mocambo, primeiro bairro africano de Lisboa, o único que se conhece na Europa e o mais antigo do mundo fora de África?

Miguel Andrade

Jornalista

Já ouviu falar no Mocambo, primeiro bairro africano de Lisboa, o único que se conhece na Europa e o mais antigo do mundo fora de África?

Salomé Rita

Sonoplasta

Desde os primeiros desembarques de pessoas escravizadas vindas de África em solo português até aos dias de hoje passaram quase 600 anos. Estávamos no início de uma era imperial, e também colonial, que terminou– pelo menos esta última – há escassas 5 décadas.

Nesse período de tempo, a presença africana em Lisboa, que desde cedo perfazia cerca de 10% da população, deixou marcas indeléveis na capital portuguesa, que perduram, por exemplo, em nomes de ruas, como a do Poço dos Negros, cujo sentido ainda hoje se debate. Mas desapareceu praticamente de outros locais, como o Mocambo, considerado o primeiro bairro africano da Europa.

Nuno Fox

Hoje é o bairro da Madragoa, mais conhecido pela memória das varinas, as antigas vendedoras de peixe, oriundas de cidades da costa atlântica como Ovar: daí resulta o nome (o)varinas.

De forma pragmática, os descendentes de africanos foram integrados, não sem conflitos e sofrimento próprio, na vida económica e social da cidade. A mão de obra tornou-se indispensável ao funcionamento da cidade.

Os homens faziam trabalhos pesados e degradantes, habitualmente indesejados pelo resto da população. São os varredores, caiadores ou distribuidores de água. Das mulheres, diz-se que corriam “Lisboa de ponta a ponta” como vendedoras (de carvão, pescado ou bens alimentares que elas próprias confecionavam), para além de trabalharem como criadas domésticas que, entre as muitas funções, figurava a de levarem diariamente os calhandros com dejetos domésticos para o rio Tejo, o que lhes valeu a alcunha de calhandreiras.

Ao longo de quase seis séculos, há também casos excecionais de descendentes de africanos bem sucedidos: mulheres que chegaram a possuir casa próprias como Violante Fernandes; homens integrados nas confrarias religiosas como a da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Mais de 2.000 africanos negros lutaram, em 1580, contra a ocupação castelhana de Portugal. Poucas pessoas sabem que o médico Sousa Martins, com estátua venerada junto à Faculdade de Medicina, no campo Mártires da Pátria, era descendente de africanos.

E no início do ano, foi descerrado um busto do Pai Paulino, figura popular na Lisboa do século XIX, condecorado combatente da causa liberal. Esta é uma das raras representações da presença africana em Lisboa e fica no largo de São Domingos, ainda hoje local de reunião da comunidade.

Nuno Fox

No terceiro episódio de Histórias de Lisboa, Miguel Franco de Andrade conversa com a historiadora Isabel de Castro Henriques, pioneira nos estudos contemporâneos do tema africano em Portugal, e um dos temas incontornáveis é a história por detrás do painel de azulejos que compõe a imagem e capa deste podcast. Oiça aqui a entrevista.

Histórias de Lisboa é um podcast semanal do jornalista da SIC Miguel Franco de Andrade com sonoplastia de Salomé Rita e genérico de Nuno Rosa e Maria Antónia Mendes.

A capa é de Tiago Pereira Santos em azulejo da cozinha do Museu da Cidade - Palácio Pimenta.

Ouça aqui as ‘Histórias de Lisboa’:

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