Geração 70

Episódio ao vivo com Pedro Nuno Santos: “O mal de muitos políticos é querer inventar a roda e mudar tudo. Comigo não vai acontecer isso”

“Havia sempre muita política em minha casa” diz o atual líder do Partido Socialista, que nasceu em São João da Madeira, numa família privilegiada, sem problemas de dinheiro. “Eu disse um dia que tenho muito orgulho em ser neto de sapateiro, mas criou-se uma ideia errada de que queria dizer que era coitadinho. Não foi nada disso, o meu avô tinha uma pequena oficina, o meu pai era empresário e eu tinha uma vida boa”. Pedro Nuno Santos tem a certeza que essa vida com autonomia financeira lhe deu a liberdade que sente hoje, “sem receio de defender e discordar”. Oiça aqui o episódio especial ao vivo no Festival de Podcasts do Expresso

Bernardo Ferrão

Bernardo Ferrão

Diretor de Informação da SIC e SIC Notícias

Episódio ao vivo com Pedro Nuno Santos: “O mal de muitos políticos é querer inventar a roda e mudar tudo. Comigo não vai acontecer isso”

João Martins

Coordenador de Podcasts

José Fernandes

Pedro Nuno Santos, líder do PS e que quer ser o próximo primeiro-ministro, nasceu em São João da Madeira em abril de 1977. Deu cedo nas vistas no mundo da política.

Começou na associação de estudantes, passou pela JS onde se filiou com 14 anos, foi vereador, deputado e governante. Assumidamente de esquerda, foi crítico da terceira via, herdou aliás do pai, empresário, esse lado mais ideológico e de combate. A mãe era mais conservadora.

Faz questão de se apresentar como neto de sapateiro, mas já se passeou de Porsche. Em tempos esteve a marimbar-se para a dívida, mas também está na fotografia do primeiro superavit da democracia. Depois foi a tap, o whatsapp de Alexandra Reis, a habitação e agora os CTT. Cicatrizes que carrega para o seu mais importante desafio: se chegar ao lugar de António Costa diz agora é que é: quer fazer algo decente e de jeito pelo país e pelas pessoas.

"O facto de ter uma vida de privilégio apenas acentuou a revolta com as diferenças e com as desigualdades sociais onde eu me inseria. Não convivia bem com aquilo. Sempre tive um grande inconformismo com o que me rodeava”, afirma nesta entrevista ao vivo perante uma plateia de 400 pessoas no auditório da Reitoria da Universidade Nova.

José Fernandes

Neste episódio especial ao vivo com Bernardo Ferrão, Pedro Nuno Santos mostra-se sem arrependimentos em relação a declarações do seu passado político e remete constantemente para a importância do contexto no passado. Sobre a dívida nacional, diz “A dívida pública tem de se ir pagando à medida que se vai gerindo”. Quando Bernardo Ferrão pergunta se isso significa que concorda com José Sócrates, Pedro Nuno Santos leva a plateia a rir depois de desabafar “O Bernardo não precisa de fazer isto… o que significa é que a dívida tem de ser gerida como o grupo Impresa também vai pagando e gerindo a sua dívida”.

Questionado se gostava de ter Sócrates de regresso ao PS, Pedro Nuno diz que está tudo resolvido entre os socialistas. Sobre se alguém de esquerda pode ou não ter um Porsche, o líder do PS diz que não há problema nenhum, mas “não se sentia bem” em ter um Porsche e por isso vendeu o seu. “Se soubesse que o Bernardo queria um Porsche, teria falado consigo para fazer negócio”, responde. “Não há mais história sobre isto, não faço juízos de valor sobre os outros, simplesmente não me sentia bem”, remata.

A poucas horas do início do Congresso do partido, esclarece que “O PS está focado nas eleições de março, concorre sozinho e está a trabalhar nesse sentido. Não vamos fazer nenhum acordo pré-eleitoral”. O líder socialista diz que não faz sentido pensar e antecipar cenários, quando não se sabe o resultado das eleições.

Sobre o governo de António Costa, Pedro Nuno assume a defesa do passado recente do partido. "Tenho feito ao longo destas semanas a defesa da governação dos últimos 8 anos, tenho mesmo orgulho nos resultados. Não está tudo bem e a tarefa não está acabada, nunca está", afirma.

José Fernandes

"O desafio central para o país é alterar o perfil da economia portuguesa. Se não o fizermos nunca vamos conseguir ter o país que queremos". Sobre a carga fiscal assume “é claro que os portugueses não estão satisfeitos com a carga fiscal, mas nós precisamos de dar estabilidade ao país”, diz. O que vai fazer para alterar a austeridade? “Isso não é inteiramente verdade, houve reposição de rendimentos e aumento da despesa do Estado com a saúde, por exemplo. A restrição orçamental existe e existirá sempre, mas temos de aproveitar da melhor maneira a margem orçamental que temos”.

"Há muito trabalho por fazer e já no próximo domingo vamos apresentar propostas".

Voltar a nacionalizar os CTT "não é um objetivo no horizonte, mas o Estado não deve abdicar dele nem o exclui. Temos de perceber o que aconteceu com os CTT, fez-se uma concessão e venderam-se todos os ativos, o que torna a posição do Estado muito difícil", esclarece. "Só há três países da Europa com os CTT privatizados, foi mal feita e não acautelou os interesses de Portugal, não tenho nenhum problema em dizê-lo".

“Não é possível corrigir todas as asneiras que o PSD e o CDS fizeram nos anos em que governaram”, afirma o líder do PSD.

"O pior que se pode fazer é cada novo Governo achar que vai inventar a roda e tentar reverter tudo e mudar tudo. Esse é um mal de muitos políticos que eu não tenho. Comigo não haverá isso, não vou querer mudar tudo"

Questionado sobre se a direção executiva do SNS é para manter, Pedro Nuno Santos diz que "sim, é para manter". “Esta reforma em curso na Saúde tem de se consolidar para produzir resultados”.

O líder socialista diz que já não anda de comboio há algum tempo e que não vai responder a perguntas sobre o preço dos bilhetes. Bernardo Ferrão esclarece os valores e questiona sobre a concorrência do comboio com outras alternativas. Pedro Nuno Santos diz que a única coisa que pode dizer é que os comboios estão lotados. São poucos, mas não temos espaço no canal ferroviário mais comboios. Por isso é que precisamos de uma linha nova.", diz. E sobre acrescenta: "A CP não pratica os preços que gosta, mas os preços que pode".

“A maioria absoluta não fez mal ao PS, não partilho dessa ideia”, diz Pedro Nuno Santos. “Perdemos muito tempo a discutir a maioria absoluta, mas ela acontece poucas vezes. Não faz sentido procurar na maioria absoluta a razão para os problemas do Governo”.

José Fernandes

Sobre a relação com o antigo líder do PS, Pedro Nuno Santos não tem dúvidas que vão continuar em sintonia. “Nós tivemos momentos de diferença, mas nunca deixámos de ter respeito um pelo outro. Quando temos confiança em nós é muito difícil que outros nos façam sombra. Claro que quero ter António Costa por perto”.

“Durante muitos anos o que vi sistematicamente é que António Costa e Pedro Nuno Santos não se davam e que agora em dois ou três meses são os melhores amigos do mundo, mas a verdade é que nos respeitamos e vamos continuar a trabalhar juntos”.

Sobre o futuro de João Galamba, diz que é precoce falar sobre isso. “Não estamos em fase de fazer listas, temos um congresso este fim de semana, cada coisa no seu tempo, o Bernardo terá a resposta a essa pergunta no tempo certo”.

Luís Montenegro já foi claro em relação ao Chega, mas Pedro Nuno o que quer fazer com os seus parceiros. “Quais parceiros? Não temos. O PSD disse não é não nos Açores e depois…”. “Não vou negar o que já fizemos [a geringonça], mas o que digo é que o PS vai fazer uma campanha focado nas eleições e depois procurará a melhor solução para cumprir o plano socialista”.

“Estamos a trabalhar no cenário de 10 de março e depois logo veremos. Não estamos nessa fase, só estamos focados na vitória a 10 de março”.

“A minha inspiração é o meu pai, que nasceu numa família humilde com dificuldades e trabalhou e bateu-se por uma vida melhor sem perder os valores que teve desde sempre na vida de respeito pelo outro. De defesa e de sonho por uma sociedade com menores desigualdades.”

“A desilusão é o país ainda não ter conseguido reduzir de forma drástica o numero de pobres em Portugal. É o maior fracasso da nossa democracia e temos de tentar resolver nos próximos anos. É a nossa maior falha”.

Paulo Alves

Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: bferrao@expresso.impresa.pt

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