Sandra Tavares da Silva: “O Governo não tem ajudado muito [o setor do vinho], falta apoio na comunicação da imagem de Portugal lá fora”
Já foi considerada pelo Financial Times uma das “melhores enólogas do mundo”. Formou-se em agronomia e fez mestrado em enologia, em Itália. Pelo meio, foi jogadora profissional de voleibol e desfilou como modelo nas passarelas de Milão. Nesta conversa com Bernardo Ferrão, recorda a infância na quinta do avô, os momentos de aflição que viveu com a família durante o Verão Quente e a perseguição que fizeram à mãe - “sempre que ia à Suíça e regressava era interrogada durante horas no aeroporto.” Oiça aqui o Geração 70
Nasceu em 1971, nos Açores, onde o pai estava destacado como Oficial da Marinha. Regressou a Lisboa aos três anos com a mãe, o pai e as duas irmãs. Os fins de semana eram passados na quinta do avô, em Alcochete.
Começou a pisar uvas muito cedo, ajudava o avô na vindima. Da janela do quarto via a adega da família. “Adorava passar o dia com as mãos na terra, com os animais e na vinha.”
A quinta estava na família há três gerações. Era do bisavô que, muito novo, foi trabalhar para Lisboa “só com um saco às costas”. Ficou com a mercearia do patrão e ergueu um “império de mercearias” na capital. A quinta da família era “fornecedora” do negócio.
O pai passava longas temporadas longe de casa. “Era duro.” A mãe, suíça, trabalhava como intérprete para empresas internacionais mas deixou tudo para cuidar das três filhas.
“Vivíamos bem com o que tínhamos. A minha mãe fazia-nos camisolas de tricô, reciclávamos as roupas. O que dava para uma dava para as outras irmãs”, recorda.
João Carlos Santos
A família era “recatada”. Os pais não falavam muito de política, mas lembra-se da “tensão” e do ambiente de “insegurança” que viveu antes e depois do 25 de Abril. A mãe, “por ser suíça e casada com um militar”, era “perseguida” pela PIDE. "Sempre que ia à Suíça e regressava era interrogada. Havia um plano de fuga, se acontecesse alguma coisa podiam vir buscar-nos”, conta.
Depois da Revolução, o país estava a ferro e fogo - com sucessivas ocupações, confrontos nas ruas, ataques a sedes partidárias - para proteger a quinta da família, o pai montou um “acampamento de fuzileiros”.
“Chegámos a ser recebidos pelos empregados de enxada da mão”. Queriam invadir a propriedade. Abanaram o carro do meu pai. Mataram cavalos e roubaram alguns bens.”
A Sandra era uma criança “tímida, calada” e com complexos com a altura. Em adolescente, jogou na Seleção Nacional de voleibol e com 17 anos começou uma carreira como modelo. “O mundo da moda é deslumbrante e cruel ao mesmo tempo.”
Sempre soube que não ia viver da moda e que “aos 25 anos já seria velha para ser modelo”. Enquanto desfilava na ModaLisboa estudava agronomia e depois da licenciatura foi para Itália tirar um mestrado em Enologia.
Uma das grandes desilusões foi não ter ficado com a quinta do avô. “Chorei durante meses”, conta. Hoje é proprietária da Quinta da Chocapalha e de outras três propriedades onde produz milhares de vinhos e leva a cultura portuguesa a quase 30 países.
Sandra Tavares da Silva é a mais recente convidada do podcast “Geração 70”. Já foi considerada pelo Financial Times uma das “melhores enólogas do mundo”. Foi modelo e jogadora profissional de voleibol. Numa conversa com Bernardo Ferrão, fala sobre a infância na quinta do avô e da paixão, que sempre teve, pela terra e pelas vinhas. Recorda os momentos de aflição que viveu com a família durante o Verão Quente e a perseguição que fizeram à mãe por ser suiça e casada com um militar.