Geração 70

Isabel Abreu: “Por que é que os contraceptivos são gratuitos e os produtos de menstruação não? Se os homens menstruassem, estava resolvido”

Alentejana, atriz, feminista e filha de médicos da pequena vila de Arronches. Sempre quis representar e fazer cinema, a mãe chamava-lhe “teatreira.” Foi à porta do supermercado da aldeia que conseguiu a tão desejada Barbie que a mãe odiava - um “estereótipo de mulher.” Politicamente assume-se “uma mulher em luta” que se desiludiu com a geringonça. Sem tabus, fala sobre o “caos social” que “todos” estamos a viver. Ouça aqui a entrevista com Bernardo Ferrão no Geração 70

Bernardo Ferrão

Bernardo Ferrão

Diretor de Informação da SIC e SIC Notícias

Isabel Abreu: “Por que é que os contraceptivos são gratuitos e os produtos de menstruação não? Se os homens menstruassem, estava resolvido”

João Martins

Coordenador de Podcasts

João Ribeiro

Sonoplasta

Nasceu em Arronches, Portalegre, em 1978. Na pequena vila alentejana tratavam-na como “doutora pequenina”. Filha de médicos respeitados, passou grande parte da infância num “quartinho” de hospital. “As auxiliares cuidavam de mim."

Os avós maternos eram de Arronches, o avô pertencia aos serviços cartográficos do exército e vigiava a fronteira entre Portugal e Espanha. A família deixou a terra alentejana e foi para Almada. Os pais conheceram-se na Faculdade de Medicina e regressaram novamente ao Alentejo para “ajudar na criação do centro de saúde de Arronches e do Hospital de Portalegre”.


Não gostava da pré-primária e entrou para a escola primária antes do tempo. “Foi por favor e porque era filha dos médicos de Arronches.” Nasceu depois do 25 de Abril, mas o Estado Novo nunca saiu da escola onde estudou. “A sala de aula estava dividida pela fila dos burros, dos médios e dos bons." A professora era austera e por vezes usava a “joaninha”, recorda. “Quando a joaninha saia todos podíamos apanhar ou não. Eu tinha medo”.

Sempre quis representar e fazer cinema. Ainda criança era carinhosamente tratada pela mãe por “teatreira”. Recorda os teatros que fazia à porta do supermercado da aldeia para conseguir a boneca que tanto desejava. “A minha mãe odiava a Barbie, disse-me sempre que não a comprava. Odiava aquele estereótipo.”

Depois de terminar o secundário, em Portalegre, entrou no Conservatório, em Lisboa. Mais tarde, já com 29 anos, regressou a Arronches. Mas não para sempre. “Tinha a minha vida cá. Era muito, muito duro viver lá e trabalhar em Lisboa diariamente.”

Isabel Abreu é a nova convidada do podcast Geração 70. A miúda tímida e calada deu lugar à atriz que luta pelos direitos das mulheres e com orgulho na carreira que construiu. Numa conversa com Bernardo Ferrão, fala sobre a infância no Alentejo e sobre as inseguranças que a acompanham até hoje.

Politicamente assume-me: está na luta. Fala sobre o “caos social” que “todos” vivemos, sobre o ordenado que “não chega para as despesas” e sobre a vida que “não fica difícil, mas impossível.”

“Chegámos a uma altura em que trabalhar não é suficiente para viver.”

Assumidamente de esquerda e mais próxima do Bloco, confessa que “adora” Mariana Mortágua mas foi uma “desilusão” ver o partido governar ao lado do PS.

Ouça a entrevista.

Paulo Alves

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: bferrao@expresso.impresa.pt

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