Cecília Meireles: “A minha irmã tinha uma deficiência profunda e morreu há dois anos. A forma como olhavam para nós na rua marcou-me muito”
Nasceu no Porto, em 1977, e cresceu em Guimarães, “na altura, a cidade dos novos ricos”. Da infância, recorda a luta da mãe para conseguir um lugar na escola para a filha - irmã de Cecília - que tinha uma deficiência profunda, e não esquece “a maneira como olhavam para nós na rua, como apontavam o dedo”. Cecília Meireles sempre quis ser a voz dessa irmã e, nesta conversa com Bernardo Ferrão, fala do seu caminho na política, da saída do CDS numa altura difícil para o partido, e do regresso à advocacia. Oiça aqui o podcast Geração 70
Nasceu no Porto, em 1977. Com apenas três anos mudou-se para Guimarães, cidade onde cresceu e viveu largos anos.
O pai foi industrial e chegou a trabalhar na Câmara Municipal de Guimarães, “não era um homem rico”, conta, mas havia algum “preconceito”. “Guimarães era, na altura, a cidade dos novos ricos”.
D.R.
A irmã Marcela morreu há dois anos. Nesta entrevista, Cecília Meireles recorda a luta da mãe para conseguir um lugar numa escola para a filha com uma deficiência profunda e não esquece “a maneira como olhavam para nós, como apontavam o dedo marcou-me muito”.
Sempre quis ser “a voz” da irmã e talvez tenha sido por isso que entrou para a política.
José Fernandes
Aos 18 anos foi bater à porta de todos os partidos para perceber com qual é que se identificava mais. Na altura, “Portugal era o cavaquismo”, mas como leitora “ávida” do jornal Independente aproximou-se do CDS, o único partido com o qual se identificou (até hoje).
Foi Secretária de Estado do Turismo do Governo de Pedro Passos Coelho e numa das fotografias que trouxe para o podcast “Geração 70” lembrou o “Portugal do antigamente”, onde o “Turismo era o sol e o mar do Algarve”. Recorda a viagem a Coimbra, ao Portugal dos Pequeninos, e deixa uma certeza: “Nunca acreditei que fôssemos um Portugal dos Pequeninos. Portugal é do tamanho que quiser ser. Nós é que nos diminuímos”.
Quando começou na política “não era coisa de mulheres”, hoje é bem diferente, mas admite que na direita “há um longo caminho a percorrer.”
D.R.
Deixou a política numa fase complicada do CDS e não esconde: “foi uma decisão pensada, mas muito sofrida”. Numa conversa com Bernardo Ferrão, fala de como o partido se afundou e como hoje tenta sobreviver: “O CDS começou a fechar-se sobre si próprio. E isso tirou-lhe a capacidade de perceber o país”.
Sem receios, fala da chegada do Chega e da Iniciativa Liberal, partidos que não considera uma “ameaça” para o renascimento do CDS - “há um espaço por preencher”, falta uma “direita responsável” no Parlamento. Não é crente e acredita que não faz parte de uma direita “que faz lembrar os velhos tempos”.
“Portugal não é só Turismo e não pode ser só Turismo. Este é um modelo de desenvolvimento errado. O resto é preciso desenvolver-se”
A “reconstruir uma vida” e de regresso à advocacia afasta uma candidatura a Bruxelas: “não sou pessoa de andar a saltar de uma vida para a outra”, diz.
Cecília Meireles, antiga secretária de Estado do Turismo e deputada do CDS, é a mais recente convidada do podcast “Geração 70”, crítica o país que “não consegue sair da cepa torta”, fala da infância, da entrada na política e da desilusão com o CDS - “houve uma altura em que já não reconhecia o meu partido”.
Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.