Carlão: “Na escola, o miúdo sem comida não tem o mesmo rendimento do miúdo de barriga cheia. A meritocracia é uma das maiores mentiras”
Nesta conversa com Bernardo Ferrão, Carlos Nobre, o Pacman que virou Carlão, fala do bairro onde cresceu, em Cacilhas, de onde “saíram todo o tipo de pessoas”, desde membros do Governo a “bandidos e traficantes que acabaram presos”. “Vendia-se droga às claras”, afirma o músico, que acredita numa sociedade sem classes. “Na escola, o miúdo sem comida não tem o mesmo rendimento do miúdo de barriga cheia. Isto muda as regras todas. A meritocracia é uma das maiores mentiras dos últimos anos”. Oiça aqui o terceiro episódio de Geração 70
Nasceu em 1975, em Angola, em casa e ao "som dos tiros" que se ouviam na rua. Os pais, cabo-verdianos, mudaram-se para o país à procura de uma vida melhor. Acabaram a fugir da guerra civil “como retornados, que não eram”.
Chegou a Portugal com meses e foi em Cacilhas, na Margem Sul, que cresceu, que se tornou um homem “sem luxos”, que "acredita na Esquerda, no ideal Comunista e numa sociedade sem classes". Foi no bairro que construiu uma vida e uma carreira.
José Fernandes
Carlos Nobre, o Pacman que virou Carlão, cresceu num bairro de onde “saíram todo o tipo de pessoas”. De membros do Governo como a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, e o irmão, António Mendonça Mendes, secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro aos “bandidos e dealers que acabaram presos”. “Vendia-se droga às claras e é claro que uma pessoa é fruto do seu habitat”, recorda.
Em casa falava-se muito pouco, os pais tinham “a cultura do trabalhar muito”. Em adolescente “quis pertencer a tudo” e “ser muita coisa”. “Cheguei a comprar uma camisa branca, queria ser beto e cuspiram-me nas costas, num bar”.
“Na música há espaço para tudo, para os momentos bons e maus”. A música salvou-o dos caminhos sombrios e hoje não consegue falar do regresso dos Da Weasel - 10 anos depois - sem um brilho nos olhos. “Só com os anos é que ganhei consciência da real importância dos Da Weasel”.
Paulo Alves
João Ferrão dos Santos, cofundador humano da AIsthetics e CEO da Underdog Founders
Não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.