“Hoje em dia as primeiras cinco perguntas que o investidor faz antes de avançar com um projeto têm que ver com sustentabilidade”
Em entrevista ao Expresso Imobiliário, Marta Esteves Costa, responsável pela área de sustentabilidade e ESG da gestora de ativos e fundos imobiliários Norfin, fala sobre as novas tendências e preocupações dos investidores, cada vez mais interessados na inclusão do conceito de sustentabilidade. A procura por certificações ambientais está a crescer a olhos vistos e os edifícios que apostam em critérios ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança) estão cada vez mais valorizados no mercado: “Temos inclusivamente muitos investidores que dizem que não vão comprar um edifício que esteja abaixo deste limiar de alinhamento”. Marta Esteves Costa diz mesmo que “hoje em dia as primeiras cinco perguntas que o investidor faz antes de avançar com um projeto têm que ver com sustentabilidade”. Oiça aqui a entrevista
As novas diretivas europeias, mais exigentes no que respeita à sustentabilidade, são o grande impulso para a mudança de paradigma num setor que é responsável por uma grande fatia das emissões globais de gases com efeito de estufa e por grande parte do consumo energético. Pressionados pelas novas regras comunitárias, os investidores colocam hoje os critérios ambientais, cada vez mais, no topo da lista. A responsável da Norfin, gestora de ativos imobiliários, explica do que se tratam os critérios ESG e sublinha: "os nossos ativos vão perder valor se não estiverem alinhados com a sustentabilidade. E o que estiverem alinhados, vão ter um valor superior. É esta a análise que os investidores fazem".
Para além do certificado de eficiência energética, obrigatório para todos os edifícios que são colocados no mercado, há cada vez mais procura por outras formas de certificação mais completas. Os mais utilizados são os sistemas internacionais BREEAM (British Research Establishment Environmental Assessment Method), LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e WELL (focado na saúde e no bem-estar de quem ocupa os edifícios).
É sobretudo no mercado corporativo e comercial que mais cresce a procura por certificações ambientais, mas no mercado residencial começa também a ganhar expressão. "Não é tão evidente, mas temos na Norfin uma série de projetos em Vilamoura e os compradores, nacionais e estrangeiros, começam a valorizar muitíssimo este aspecto". No entanto, Marta Esteves Costa ressalva: "É um aspeto a valorizar mais na gama alta, do que num segmento de produto mais baixo"
Ines Duque
Teresa Espírito Santo, sócia e diretora executiva da BCG
O investimento na sustentabilidade torna a construção (ainda) mais cara, o que pode ser um obstáculo ao desafio da sustentabilidade sobretudo numa conjuntura económica marcada pela alta taxa de inflação, subida das taxas de juro e aumento dos custos e dos materiais de construção. Mas nem assim, o interesse dos investidores está a arrefecer. "É mais caro construir, mas depois tenho não só vantagem na renda que vou conseguir e no valor de venda, como tenho vantagem na operação do edifício com poupanças muito significativas", sublinha a responsável da Norfin. Lembra também que as regras europeias englobam as instituições financeiras, o que faz com que o financiamento bancário fique mais caro para projetos que não cumpram determinados critérios.
Marta Esteves Costa considera que falta ainda uma consciência coletiva do setor imobiliário em torno da importância da sustentabilidade. Mas lembra que é um caminho sem retorno, uma vez que a União Europeia vai manter o rumo, e as novas regras estão aí à porta: "Vai ter de ser exequível. Daqui a uns anos não vamos poder vender determinadas casas porque não têm um certificado energético mínimo que têm de ter. Tem de existir aqui também um apoio do Estado". Deixa por isso um conselho aos investidores: "Preparem-se já. Não ignorem. É um processo complexo, mas vai ter de acontecer".
Oiça este episódio do Expresso Imobiliário, conduzido por Rita Neves e com sonoplastia de Ana Marques e João Ribeiro.
Podcast semanal em que são abordadas as mais diversas temáticas relacionadas com o Imobiliário, um sector fundamental para a economia nacional. Da habitação ao investimento, passando pela arquitetura e construção, as jornalistas Maribela Freitas, do Expresso, e Rita Neves, da SIC, convidam especialistas para refletir sobre problemas, tendências e caminhos futuros desta área.
