Vhils: “Há um trabalho muito invisível feito pela minha equipa. Tenho um bocado de conflito em ser o patrão, mas sim, são 54 pessoas”
Alexandre Farto assina com o nome de código Vhils desde a adolescência, altura em que arriscou desenhar nas paredes. Nesta entrevista a Francisco Pinto Balsemão no podcast Deixar o Mundo Melhor, o artista plástico lembra esses primeiros tempos, evoca as professoras que mais o ajudaram e fala dos desafios de uma carreira que se tornou muito maior do que a margem sul de Lisboa onde tudo começou. “O que tento fazer é parar o tempo, humanizar as cidades, tornando-as tão lentas que podemos ver a beleza que perdemos”, diz Vhils
Nasceu no Hospital de Santa Maria em Lisboa, em 1987, e começou a desenhar na Margem Sul: "Eu era um bocado introspetivo, desenhava muito, divertia-me imenso a fazer aquilo, sem nunca pensar que, uns anos mais tarde, iria começar a pintar nessas paredes. Comecei por desenhar no papel desde pequeno. O graffiti só apareceu pelos meus 12 ou 13 anos, com os meus colegas".
Os pais de Alexandre Farto eram trotskistas, o que o fez ouvir muitas conversas que lhe trouxeram "consciência social. Os meus pais são de uma geração que migrou do Alentejo – de Marvão – para a periferia de Lisboa, e a Margem Sul era o sítio mais barato para viver na zona de Lisboa. Foram para o Seixal, Pinhal de Frades, onde ainda havia estradas de terra batida. Ainda me lembro de encontrar uma massa e fazer uma mistura e tentar desenhar numa parede".
O acaso brindou-o com as professoras certas no momento certo, "foi com elas que percebi que poderia dar um salto, que comecei a experimentar novas técnicas e processos. Havia artistas muito ligados ao graffiti em Portugal e fora, e essas pessoas também foram importantes. O movimento de graffiti era um grupo de pessoas com interesses comuns que falavam, desenhavam, e se influenciavam umas às outras, e isso fez-me querer ir mais além. Um dia cheguei a um sítio onde estávamos todos a pintar, eu tinha um martelo, e decidi que queria tirar da parede, em vez de adicionar. Foi aí que comecei", e foi aí que esboçou o nome VHILS, o homem que faz arte em paredes em muitas partes do mundo. A tarefa exige 54 colaboradores: "São 18 pessoas no ateliê, oito na galeria, três no Festival Iminente que criei, como também criei a plataforma Underdogs".
Francisco Pinto Balsemão lança o podcast “Deixar o Mundo Melhor” para assinalar o início das comemorações dos 50 anos do Expresso. Durante 50 semanas, e em contagem decrescente para o dia de aniversário a 6 de janeiro de 2023, o fundador e primeiro diretor do jornal entrevista 50 personalidades marcantes dos mais diversos sectores da sociedade.
Com música original de Luís Tinoco, a sonoplastia é de Joana Beleza e João Luís Amorim, o vídeo e a edição de José Cedovim Pinto, Carlos Paes e Rúben Tiago Pereira. A transcrição é de Joana Henriques e o apoio à edição de Manuela Goucha Soares. Imagem gráfica de Marco Grieco e produção de Margarida Gil.
“Deixar o Mundo Melhor” pode ser ouvido no site do Expresso e em qualquer plataforma de podcasts. Também pode ler uma versão sintética desta conversa na revista do Expresso de 4 de novembro. Oiça aqui os outros episódios:
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