As Mulheres Não Existem

Vera Mantero: “Alguns dos nossos problemas talvez venham de termos corpos dormentes, paralisados. Basta olhar para Putin”

Vera Mantero é a mais conhecida bailarina e coreógrafa portuguesa contemporânea. Uns meses em Nova Iorque bastaram-lhe para abandonar definitivamente a dança clássica - fundou há mais de 20 anos o projeto O Rumo do Fumo, um espaço que se distingue pela experimentação - onde se expande o campo da dança e os seus horizontes, cruzando-a com a música, o teatro, a literatura, as artes visuais e o cinema. Em conversa com Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira, no podcast As Mulheres Não Existem, traz a dança contemporânea para responder a uma pergunta: como estar neste mundo sem colapsar completamente?

“Como estar neste mundo sem colapsar completamente” é uma das questões que coloca em “O Susto é o Mundo”, de 2021: “A dança é uma atividade que junta corpo e espírito... Os filósofos não costumam mexer muito os corpos, e os ginastas não costumam fazer muita filosofia”, ri. “É um lugar onde há corpo com pensamento”, afirma. Foi um dos argumentos que a levou a trocar a dança clássica pela contemporânea, o que está bem patente na sua mais recente criação, “All You Need Is Plancton”. A peça parte de um artigo do FMI de 2019 que mostra a importância de fazer com que as baleias se reproduzam mais. “Na peça explico tudo timtim por timtim”, promete.

Neste episódio de As Mulheres Não Existem, Vera Mantero revisita a peça “Comer o coração”, obra que levou, com Rui Chafes, a representar Portugal na Bienal de São Paulo em 2004, onde explora o tema da coreografia do pudor. “Foram os meus pais que coreografaram essa parte”, sorri. Numa conversa em que o termo “conservadorismo” suscitou discussão, a bailarina lembra a infância e as perguntas que colocava à mãe: “Porque é que temos de andar vestidos quando é Verão? Não percebo! Isto nunca me largou”, observa. “Alguns dos nossos problemas”, propõe, “talvez venham de termos corpos dormentes, paralisados; corpos encouraçados, em camisas de forças”. “Basta olhar para aquele Putin”, sublinha.

Esta semana houve ainda tempo para contar a história de Margot Fonteyn e para comentar a mediática demissão da russa Olga Smirnova, “prima ballerina” do Ballet Bolshoi, que se despediu em Março em protesto contra a guerra na Ucrânia. Nas habituais recomendações, o excerto Echad Mi Yodea, retirado de um espectáculo da companhia israelita de dança Batsheva, e ainda uma conta de Instagram: Miss Beige, personagem da actriz madrilena Ana Esmith.

Tiago Pereira Santos

Todas as semanas, trazemos uma nova convidada para uma conversa exclusiva sobre a sua vida e o percurso profissional - mulheres que são casos individuais e também inspiradores de determinação, curiosidade, inteligência e vontade de arriscar. Vamos também dar a conhecer histórias de mulheres que marcaram a sociedade e foram pioneiras nas suas áreas. Vamos falar das preocupações e reivindicações das mulheres hoje, e das notícias em que as mulheres são protagonistas. E a cada semana vamos trazer novas recomendações de autoras femininas ou em que as mulheres são protagonistas - desde livros, artigos, filmes e exposições a músicas e documentários.

As Mulheres Não Existem é um podcast sobre mulheres para ouvintes de todos os géneros. Pode ouvir e seguir os episódios em todas as plataformas de podcast e no site do Expresso. As Mulheres Não Existem tem o patrocínio do Banco Credibom e piscapisca.pt

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jlamorim@expresso.impresa.pt

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