Iryna Shev: “As mulheres ucranianas usam mais as redes sociais para mostrarem que também existem nesta guerra”
A jornalista Iryna Shev, nascida na Ucrânia, é a convidada de Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira no episódio desta semana do podcast As Mulheres Não Existem em que conta o seu percurso, as suas escolhas, e nos fala sobre como foi voltar agora a um país invadido e em guerra.
Veio para Portugal com dez anos com os pais e o irmão e foi muito bem recebida na aldeia portuguesa onde viria a crescer. “Foi muito difícil aprender português”, afirma Iryna Shev num português perfeito, o mesmo com que, em directo, traduziu do ucraniano testemunhos de vítimas dos ataques russos, um acontecimento único na televisão portuguesa. Conta que a vida na Ucrânia até aos dez anos foi uma e a partir daí, em Portugal, foi outra, sublinhando, porém, que “a Ucrânia é um país muito vasto, com 40 milhões de habitantes, e diferenças e semelhanças culturais nas várias regiões”. Foi em Portugal que começou a estudar Biologia, mas depressa percebeu que aquilo de que gostava era de “contar histórias sobre os glóbulos vermelhos”. Quando mudou para Jornalismo sentiu que estava no caminho certo.
Sobre a participação das mulheres ucranianas no combate, Iryna Shev explica que houve um desinvestimento brutal das forças armadas ucranianas após a queda da União Soviética, para apenas em 2014, com a anexação ilegal da Crimeia, haver uma necessidade de reinvestir e mudar as leis de modo a acolher as mulheres. “Antes de 2014, a taxa de aprovação das forças armadas na Ucrânia era de 30%; hoje em dia é de 90%.” Houve leis aprovadas para as mulheres serem admitidas e a primeira mulher a chegar a General surgiu em 2018. “Temos só três mulheres generais”, afirma. Lamenta que as condições para as mulheres que combatem no terreno sejam escassas: “Não há uma farda para mulheres. Têm de adaptar as fardas pensadas para os homens, e também não lhes é dado um kit com pensos higiénicos, por exemplo. Tem de ser a família a enviar esse material para a frente de combate.”
Conversámos ainda sobre a primeira troca de 108 mulheres ucranianas, algumas mães e filhas, detidas em cativeiro russo desde Maio, e Iryna Shev leu um relato impressionante de uma paramédica ucraniana, Tata Kepler, que relata o que vê na linha da frente através da sua conta de instagram @useyourname.
Houve ainda espaço para as recomendações habituais, com destaque para a poesia de Judith Herzberg, sobrevivente do Holocausto, e para uma entrevista com mais de três décadas à filósofa Martha Nussbaum sobre a fragilidade da bondade.
Tiago Pereira Santos
Todas as semanas, trazemos uma nova convidada para uma conversa exclusiva sobre a sua vida e o percurso profissional - mulheres que são casos individuais e também inspiradores de determinação, curiosidade, inteligência e vontade de arriscar. Vamos também dar a conhecer histórias de mulheres que marcaram a sociedade e foram pioneiras nas suas áreas. Vamos falar das preocupações e reivindicações das mulheres hoje, e das notícias em que as mulheres são protagonistas. E a cada semana vamos trazer novas recomendações de autoras femininas ou em que as mulheres são protagonistas - desde livros, artigos, filmes e exposições a músicas e documentários.
As Mulheres Não Existem é um podcast sobre mulheres para ouvintes de todos os géneros. Pode ouvir e seguir os episódios em todas as plataformas de podcast e no site do Expresso. As Mulheres Não Existem tem o patrocínio do Banco Credibom e piscapisca.pt
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