Joana Vasconcelos: “O erro tem de ser superior ao sucesso. Quase todas as minhas peças de maior sucesso começaram por grandes erros”
É uma das mais internacionais artistas portuguesas. Durante anos foi conhecida como “a artista do tampão” por causa da obra “A Noiva”, um candelabro feito com 14 mil tampões com que se estreou na Bienal de Veneza, em 2005. Com um percurso de mais de 30 anos, Joana Vasconcelos é reconhecida pelas suas esculturas monumentais e instalações imersivas que andam por todo o mundo. Em 2012 tornou-se a primeira mulher com uma exposição individual no Palácio de Versalhes, em França. Mas não teve autorização para incluir a peça fulcral da sua obra. “Não é possível tampões em Versailhes”, foi-lhe dito. Desde setembro a sua nova exposição “Plug-In”, no MAAT, em Lisboa, já recebeu para cima de 260 mil pessoas, tornando-se a mais vista da história deste museu. Dia 6 de abril celebra-se este feito com uma ‘finissage’, ao longo de 12 horas de atividades. Um dos seus maiores desejos é abrir as portas do AMA, um misto de museu e atelier, em Lisboa, para quem quiser visitar o seu lugar de criação. Ouçam-na aqui nesta conversa em podcast com Bernardo Mendonça
Joana tem questionado ao longo dos últimos trinta anos a sociedade de consumo, a identidade coletiva, o estatuto da mulher e a desigualdade de género na sociedade. Com humor e ironia, mas também com ambiguidade e paradoxo. Quem não se recorda do célebre sapato de salto alto gigante feito com tachos e panelas?
E tanto a artista celebra o fado da Amália como o coração de Viana, o galo de Barcelos, a cerâmica de Bordalo e da Viúva Lamego ou o crochet do Pico dando-lhes novas leituras e escalas.
Há sempre muitas camadas na sua obra e um factor lúdico e de surpresa e que nos arranca tantas vezes um “uau” pela monumentalidade e originalidade das suas peças pensadas por si e concebidas por muitas, muitas mãos, as mãos mágicas e preciosas de cerca de 60 pessoas que fazem parte sua equipa, de várias áreas, técnicas e origens. Dos bordados, à serralharia, eletricidade ou arquitetura. A sua arte é sem fronteiras e a sua equipa também.
Um dos momentos mais marcantes deste seu caminho aconteceu em 2012, quando Joana fez uma grande exposição no Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, tornando-se a mais jovem artista e a primeira mulher a fazê-lo. Joana Vasconcelos tem-se habituado a fazer tudo em grande e esta sua exposição terá sido a mais visitada em França nos últimos 50 anos, com um recorde de 1,6 milhões de visitantes. Neste episódio, a artista plástica conta como a sua peça “A Noiva”, obra fulcral do seu percurso, foi censurada, o que a levou quase a desistir da exposição.
A originalidade e a surpresa são ingredientes constantes nas suas criações. Em 2013, ao leme do cacilheiro “Trafaria Praia”, representou Portugal com o primeiro pavilhão flutuante da Bienal de Veneza. E em 2018 tornou-se na primeira artista portuguesa a ter uma exposição individual no Guggenheim de Bilbau.
Em 2023 concretizou a honra de expor nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, ao lado dos mestres clássicos Leonardo Da Vinci, Michelangelo ou Caravaggio. E fez um monumental “Bolo de Noiva” para os jardins de Waddesdon Manor, que foi considerada pelo jornal The Guardian “a primeira obra-prima de arte genuinamente alegre do século 21” e que figurou no segundo lugar da “melhor arte e arquitetura” de 2023.
Joana define esta obra “entre a pastelaria e a arquitetura”, um edifício com 12 metros de altura, todo coberto com peças de cerâmica da fábrica Viúva Lamego, que vendeu por 5 milhões de euros a um coleccionador inglês. Mas o que leva Joana Vasconcelos a insistir em símbolos do matrimónio, numa época em que essa instituição está esvaziada? Joana responde neste podcast.
As suas peças continuam a marcar presença em todo o mundo e atualmente boa parte delas pode ser visitada na exposição “Plug-in”, no museu Maat, em Lisboa, que conta com uma “finissage” de 12 horas no dia 6 de abril, em jeito de última chamada para quem ainda não visitou, e que termina já dia 8 de abril.
Distinguida com mais de 30 prémios, em 2009 recebeu o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura Francês em 2022.
Admirada e agraciada por muitos, mal amada e criticada por tantos outros, Joana Vasconcelos não é de consensos, mas não deixa ninguém indiferente.
O facto de ser uma mulher com muito sucesso, poder e visibilidade internacional no mundo da arte - e se ter tornado conhecida primeiro lá fora e depois cá dentro - contribuiu para ser olhada de lado pelos pares? E por se afirmar além de artista, empresária e mulher de negócios é outra das razões para os olhares de desagrado e desconfiança sobre si?
Como tem sido a sua relação com os homens e com um mundo que vê com desconfiança mulheres que lideram grandes estruturas e obras monumentais?
Num mundo em guerra e em confronto, o que pode a arte? “É na arte que a humanidade se ultrapassa definitivamente”, afirmava a escritora feminista Simone de Beauvoir.
E Fernando Pessoa afirmou, por sua vez: “O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.” Joana é da mesma opinião? Qual o fim da sua arte? E como se relaciona com a falha, o erro, a frustração? Quando se cria sempre em grande, falha-se na mesma medida? Alguma vez terá falhado em grande? Joana responde a isto tudo e muito mais na primeira parte deste podcast. E ainda é surpreendida pelas participações do diretor do MAAT, João Pinheiranda e da amiga e empresária Catarina Portas.
Na segunda parte deste podcast, Joana Vasconcelos começa por responder às questões colocadas pela sua amiga e empresária Catarina Portas. Fala da diversidade de pessoas e das muitas mãos mágicas que trabalham nas suas peças, de várias origens e nacionalidades. E conta como Mohamed, um refugiado sírio, costureiro de profissão, passou a fazer parte da sua equipa.
Joana fala ainda da sua relação com a fé e a astrologia. E explica em pormenor o projeto “Corpo Infinito”, que coexiste no seu ateliê, de acesso gratuito para toda a sua equipa, com várias atividades e terapias de bem estar físico e mental.
A artista plástica partilha também quais as músicas que andam na sua cabeça, as próximas obras que está a conceber e em que consiste o seu AMA, um dos seus grandes projetos sonhados, misto de museu e atelier, que deverá abrir as portas a todas as pessoas que queiram visitar o seu espaço de criação. Boas escutas!
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.