Diogo Faro: “Dizem que sou polémico. Não defendo orgias obrigatórias. O que defendo é mais Habitação, melhor SNS e menos discriminação”
Autor do podcast “Desta para melhor”, Diogo Faro intitula-se nas redes sociais como o “Sensivelmente Idiota”, faz humor político e tem a mira apontada contra opressões e injustiças sociais. Atualmente, está em cena com o espetáculo “Amor, quero beijar mais pessoas”, junto com a atriz Joana Brito Silva, todas as quartas-feiras, no Teatro Villaret, em Lisboa. Um texto escrito por esta dupla, baseado na experiência enquanto casal não monogâmico. “Perante 400 pessoas, quando perguntamos se alguma vez pensaram na não monogamia ou se já tiveram atração por outra pessoa numa relação fechada quase toda a gente diz que sim. E está tudo bem.” Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça
Os tempos estão especialmente perigosos. E se não é novo que haja um manto de suspeita e de corrupção sobre altas figuras da política nacional, o cenário parece inédito no ‘timing’, no conjunto de personagens envolvidas e pelo facto de haver um partido que digere e engorda rápido com isso.
Senão veja-se: depois de sucessivos atos imorais de figuras próximas de António Costa, junto com uma suspeição populista criada pelo Ministério Público, que fez cair um governo de maioria absoluta; passou agora a discutir-se uma alegada ‘cunha’ do filho do Presidente da República para favorecer duas gémeas luso-brasileiras com um medicamento que vale milhões de euros…e tudo isto acontece com uma crise social instalada…e a poucos meses das próximas eleições legislativas.
Está o circo montado para o populismo da extrema direita aproveitar-se e soltar os palhaços, trapezistas, acrobatas e leões e repetir a cartilha de que os políticos são todos iguais, uns trafulhas e bandidos, e que isto só lá vai com as mãos mágicas de quem não acredita no sistema democrático num discurso chico esperto, oportunista, superficial e cínico que se alimenta do ódio, do medo e da desesperança…
A História parece repetir-se e 50 anos depois do fim da ditadura, voltam a surgir novas ameaças à democracia, com uma certa direita esvaziada e uma esquerda desacreditada e desunida.
Estes tempos são bons para o humor? Ou o cenário político está a ficar uma anedota que se faz sozinha?
Estas questões são lançadas ao comediante Diogo Faro, logo no arranque da primeira parte deste episódio, quatro anos depois da última vez que esteve mesmo podcast. E muita coisa aconteceu desde aí: uma pandemia, várias guerras, e agora a queda do governo que deixa tudo em aberto sobre o que vem aí…
O seu humor é cada vez mais político e ativista e através das redes sociais, posiciona-se e com a arma do riso, procura desconstruir ou questionar algumas opressões, perigos e injustiças na nossa sociedade. Do problema da crise Climática e da Habitação, à masculinidade tóxica, do racismo à homofobia, transfobia, xenofobia e demais discursos de intolerância.
E se há quem esperneie com a suposta “cultura do cancelamento”, deixando sempre no ar a questão “mas agora já não se pode dizer nada?”, a verdade é que há piadas que envelheceram mal e perderam a graça - alguma vez tiveram? - e nunca antes se discutiu tanto sobre os direitos das mulheres e das minorias, com grandes avanços na lei, e as redes sociais passaram a dar voz a quem até aqui não tinha lugar de fala, nem oportunidade para responder e dizer o que as ofende, marginaliza, achincalha e mata.
“As pessoas têm o direito a continuar a fazer piadas machistas, racistas e transfóbicas, mas isso tem graça? Já nem falo se é ou não correto, mas tem graça? Em 2023 tem graça fazer piadas sobre gays? Ou arranjas um ângulo mesmo super novo para falar ou então pensas, para quê? É preguiçoso”, chega a comentar neste episódio.
Pode o humor ser uma arma para denunciar crimes, opressões e injustiças? E até ser uma via para a empatia sobre o egoísmo e a alienação?
“É engraçado como muita gente que fala sempre sobre a suposta ‘cultura de cancelamento’ e ‘politicamente correto’ agora não diz absolutamente nada sobre jornalistas e artistas que estão realmente a serem cancelados, a ficarem sem trabalho, por estarem a defender a Palestina, contra o genocídio que Israel está a levar a cabo em Gaza.”, chega a atirar.
Autor do podcast “Desta para melhor”, Diogo Faro intitula-se nas redes sociais como o “Sensivelmente Idiota” e nos seus espetáculos de stand-up questiona algumas ideias feitas, talvez idiotas, que persistem rígidas na sociedade: Sobre papéis de género, sobre sexualidade e relações ou até sobre justiça social e distribuição de riqueza.
No final desta primeira parte Diogo é surpreendido por um áudio da namorada e atriz Joana Brito Silva, que faz um retrato dele e deixa uma questão gastronómica envolta em mistério…
(II PARTE)
Logo no início da segunda parte deste podcast, Diogo comenta sobre o seu talento em juntar pessoas, esclarece melhor o universo da não monogamia com consentimento e as regras que ele e a Joana Brito Silva estabeleceram para esta relação, e fala um pouco espetáculo que têm em cena “Amor, quero beijar mais pessoas”, até 27 de dezembro no Teatro Villaret, em Lisboa. Com prováveis datas extra e muita discussão para levar para casa.
“Perante uma plateia de 400 pessoas quando perguntamos se alguma vez pensaram na não monogamia ou se alguma vez tiveram atração por outra pessoa numa relação fechada quase toda a gente diz que sim. E está tudo bem. Porque é que não questionamos se o amor é realmente sermos donos ou donas do corpo da pessoa que amamos?"
E, como habitual, revela o que anda a ler e a música que o acompanha.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Tomás Almeida. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
Voltamos para a semana com mais uma pessoa convidada. Até lá pratiquem a empatia e boas escutas!