A Beleza das Pequenas Coisas

Susana Peralta: “O país é bafiento ao nível da misoginia, não é inclusivo para minorias. Está ainda dominado pelo 'mainstream' engravatado”

Ela é uma das mais interessantes comentadoras da atualidade. A sua lente é interseccional e particularmente atenta às desigualdades e enviesamentos do país e do mundo. Susana Peralta é professora de economia da Nova SBE, especialista em economia Política e economia Pública, cronista regular do jornal Público e um dos elementos do podcast “Fora do Baralho”, da Rádio Observador. "A verdadeira pobreza é a falta de liberdade! A falta de liberdade no mundo de trabalho traz imensos abusos. Quando o principal desafio das pessoas é por comida na mesa ou pagar a renda da casa, quer dizer que não são livres", afirma. Ouçam-na no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça

É uma das comentadoras mais relevantes da atualidade, com uma lente económica e social certeira para nos ajudar a descodificar e a refletir sobre o país e o mundo. E tanto escreve e fala do flagelo da pobreza e da desigualdade económica e social, como da desigualdade de género, do facto do macho, branco, com idade média de 72 anos estar sobrerrepresentado no Conselho de Estado, sobre os brandos costumes que encobrem os monstros na Igreja portuguesa, sobre o futebol cínico e sujo do Catar ou a importância de se regular o trabalho sexual.

Voz crítica do novo OE do governo, Susana Peralta comenta neste episódio o que mais a desagrada nas medidas recentemente tomadas e não poupa críticas ao pacote “Famílias Primeiro”, o plano de resposta do Governo ao aumento de preços, por não distribuir mais a quem precisa.

O que é certo é que não estamos todos na mesma barcaça a enfrentar as ondas altas da inflação e quem usa a maior parte do orçamento para pagar a casa e comida no prato vai mais ao fundo no índice de pobreza. E como se sabe já chegámos ao ponto em que até as latas de atum estão guardadas numa espécie de cofres em certos supermercados de zonas mais desfavorecidas.

Recorde-se que, segundo os dados mais recentes do INE, a alimentação subiu 16,4% e os custos com habitação e energia subiram 14,6% entre setembro de 2021 e setembro de 2022. Acresce a isto que só o primeiro ano da pandemia criou 230 mil novos pobres. E fez subir para 2,3 milhões os portugueses em risco de pobreza ou exclusão social, o que se traduz em cerca de 22,4% da população. Muitos deles, 1,9 milhões, a viver abaixo do limiar de pobreza. Ou seja, com menos de 540 euros por mês, uma realidade que afeta atualmente muitas famílias em Portugal. Os mais jovens, as mulheres, pessoas racializadas, minorias LGBTQIA+, pessoas que vivem sozinhas, os mais velhos.

E se não existissem apoios sociais a taxa de pobreza em Portugal seria superior a 40%. Que saídas para a pobreza, quando nem o trabalho livra os portugueses deste sufoco? “A nossa economia não é a inclusiva. Os dados europeus dizem Portugal é o país da UE onde há mais pessoas que acreditam no racismo biológico, que há etnias inferiores. Deu muita polémica quando assinei o texto sobre o assassinato do Bruno Candé. A ferida com a nossa história colonial está tapada e cheia de pus," afirma Susana Peralta neste episódio.

O que dizer mais sobre si, antes de a ouvirem? É mãe de duas filhas e um filho. É uma jovem madura que pode ser a rainha da pista se o DJ estiver à altura, pratica yoga, é de esquerda, feminista, gosta de dar humanidade e contexto social aos números, e para si a desigualdade está sempre no centro das suas preocupações. Adora dar aulas, investigar e opinar sobre o que a rodeia.

E, nota curiosa, entrou como figurante na série “Mundo Catita”, realizada por Filipe Melo e João Leitão, inspirada no mundo e nas personagens inventadas por Manuel João Vieira. Querem saber mais sobre o mundo catita de Susana Peralta? É ouvirem este episódio, com tempo e atenção.

"Queria deixar aos meus filhos um mundo mais igual e em que tivéssemos resolvido uma parte substancial do desafio climático. Mas o que mais quero é que vivam pelo menos com a mesma liberdade com que eu vivi!"

Como sabem, o genérico é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos desta vez são da autoria de Nuno Fox. A sonoplastia deste podcast é do João Martins.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: BMendonca@expresso.impresa.pt

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